“Em 2000, aos 31 anos ,uma missão religiosa me chamou para os Estados Unidos. Meu orixá Obaluayê me orientou que fosse para Massachusetts cuidar de uma criança que, na época, tinha 7 anos”, explica. Por conta da missão, morou por quatro anos no estado. Depois de cumprida, foi para Miami e abriu um food truck de culinária brasileira, que vende de comida baiana a coxinha.
Tudo começou a partir da “farra do acarajé”, evento que fazia todo mês em casa para clientes brasileiros. É a eles que Carlinhos deve seu sucesso em terras norte-americanas. Com saudade do Brasil, mais de 40 pessoas se reuniam na farra e também ajudavam na divulgação do trabalho.
Como a casa não estava mais dando conta de receber tanta gente, o baiano fez parceria com um casal de amigos, Joselito e Diana Costa, e viraram sócios em um food truck. No veículo, vendem pão delícia, quibe, coxinha, brigadeiro e comida feita com dendê.
Além disso, é bom caprichar para manter a boa sorte, já que o bolinho não é oferecido só para os mortais. “Eu preparo cada acarajé como se fosse uma oferenda para orixás”, afirma. Os deuses têm abençoado: Carlinhos recebe uma média de 200 encomendas mensais.Bênção internacional - Para ser sucesso de vendas na região, o cozinheiro explica que “o segredo é entender a saudade do brasileiro de seu país de origem”. Mas outras preocupações mais práticas, como a qualidade do material, não devem ser esquecidas - já que o cuidado com o alimento é cobrado pelo governo para que ele possa manter o food truck.
Ao longo do tempo, conquistou clientes fiéis, inclusive de outros passaportes, como cubanos, argentinos, venezuelanos, mexicanos, dominicanos e norte-americanos. “Os estrangeiros não tiveram rejeição alguma à culinária baiana. Muito pelo contrário, a aceitação é muito grande. O americano tem o costume de querer aprender, experimentar”, conta.
Tudo é feito aos poucos: como os americanos não são acostumados à pimenta baiana, Carlinhos previne cada um antes de deixar o acarajé apimentado. Já os clientes de outras nacionalidades fazem uma comparação com comidas de seus países. O acarajé, por exemplo, é comparado ao falafel, comida comum no Oriente Médio.
O trabalho que dá - A rotina nos Estados Unidos não é fácil. Carlinhos trabalha no food truck de sexta-feira a domingo e o trabalho começa às 5h da manhã. De segunda a quinta, ele vai às feiras africanas e asiáticas em busca de ingredientes para fazer comida baiana. Apesar de estar em um país diferente, ele afirma que não tem dificuldade para encontrar nenhum produto.
Durante o dia, prepara as receitas que serão vendidas no tabuleiro. Para o acarajé, primeiro quebra, lava e coloca de molho o feijão- fradinho. Depois prepara a pimenta. Faz a salada vinagrete e a massa e, por último, põe o azeite de dendê, junto com a cebola, para fritar. Esse processo leva de 8 a 10 horas.
Além do acarajé, Carlinhos também vende bobó e moqueca de camarão, pão- delícia, bolos de aipim e milho-verde, coxinha de frango, quibe. O cardápio completo pode ser visto na página no Facebook, que tem seu nome.
Por lá - O acarajé e o abará custam U$ 5 (R$ 12,50). Carlinhos diz que, em comparação, “não é mais caro que no Brasil, muito pelo contrário, é mais barato. Levando-se em conta os preços dos materiais, que são muito mais caros, e a qualidade, nunca reclamaram, pois sabem a dificuldade de conseguir comer o melhor acarajé do mundo”.
Por enquanto, ele afirma que irá continuar morando nos Estados Unidos. Mas, nas férias, sempre retorna à Bahia, para seu sítio em Mar Grande, na Ilha de Itaparica. Carlinhos ainda é fiel ao candomblé e frequenta terreiros nos Estados Unidos. Lá, é pai de santo e conhecido como Carlinhos de Oxalá. Ele joga búzios e faz banhos de ervas. Mas as cerimônias mais importantes só são feitas no Brasil.