A questão é mundial, quando se refere a importância dada à Pandemia provocada pelo novo coronavírus pela juventude, já que, na grande maioria dos cantos do planeta, jovens se aglomeram em festas e eventos como se nada estivesse acontecendo. Muito longe de qualquer julgamento, esse comportamento faz parte do perfil dessa faixa etária, mas, agora, a questão é bem mais séria, pois as vidas de muitos deles podem estar em risco. Apenas no campo das conjecturas, pois ainda isso é possível, as novas vertentes, que são bem mais agressivas e rápidas, podem estar agindo entre nós aqui em Brumado e, conforme o novo padrão das mutações, a idade dos pacientes vem diminuindo, tanto que já são muitos os casos de jovens com menos de 30 anos que acabam sendo infectados pelo vírus que está cada vez mais voraz. Como diz um vídeo muito esclarecedor que está circulando nas redes sociais (veja abaixo), “o vírus não tem cérebro e nem coração” e complementa “mas você tem”, então está na hora de todos colocarem a mão na cabeça e despertar as consciências de que estamos mesmo vivendo o pior momento da pandemia em Brumado e na Bahia.
Wedson Fonseca era um grande profissional, sendo muito querido por familiares, amigos e clientes | Foto: Reprodução Redes Sociais
Enquanto países europeus já tem índices animadores da imunização, baixando o contágio em até 50%, o Brasil pode amargar, caso a coisa continue como está, como o país que vai liderar as mortes e infecções em todo o mundo. Nesse momento chegam informações, ainda não confirmadas, de que o Toque de Recolher vai ser ainda mais rígido, o que, caso se confirme é uma medida extrema e vem corroborar ainda mais para mostrar o quão grave é o momento atual. Em junho de 2020, no pico da primeira onda, fizemos um editorial (veja aqui) e fomos muito criticados pelos negacionistas, como disseminadores do medo por meio de texto lacradores, mas, passados cerca de 8 meses, a realidade mostrou que existe uma forte razoabilidade em nosso conteúdo, ou seja, o pior poderia ser evitado, mas, infelizmente, a negligência venceu. A morte ocorrida nesta segunda-feira (22) do jovem Wedson Fonseca, de apenas 26 anos, o qual era um brilhante gerente de uma empresa conceituada de informática, que tinha um grande futuro pela frente, veio causar um forte impacto e comoção nos jovens brumadenses, já que inúmeras mensagens de condolência circularam pelas redes sociais. De forma alguma queremos fazer inferência de que ele pode ter desobedecido os protocolos sanitários, mas o fato é que ele tinha 26 anos, uma faixa etária que quase não tinha óbitos registrados. Ficam aqui os nossos mais sinceros sentimentos de pesar aos familiares e amigos, mas, lamentavelmente, a sua morte pode ser um marco para que uma nova postura bem mais consciente da juventude brumadense seja adotada, pelos menos, é o que todos esperam.
Quando se iniciou o período de quarentena de forma mais aguda, por volta de abril/maio de 2020, todos concordavam que as aulas teriam que ser suspensas, já que evitar as aglomerações dos alunos seria uma missão praticamente impossível. Mas, as primeiras previsões apontavam que o pico da doença não passaria de junho e que as aulas iriam retornar de forma gradual em julho, mas, não foi isso que aconteceu, pois, a Covid-19 resolveu desafiar todos os prognósticos e a disseminação do vírus, potencializada pelas campanhas eleitorais, se tornou ainda maior até os últimos dias de 2020, com centenas de casos ativos em Brumado e mais de 40 óbitos, o que, no princípio da pandemia seria algo inimaginável. Agora com a esperança das vacinas, seria o momento de “baixar a guarda”, mas, quando, novamente, tudo parecia caminhar positivamente, surge uma nova cepa do vírus, uma mutação que faz com que a taxa de transmissão seja muito maior. Diante disso as autoridades sanitárias da Europa resolveram adotar novos “lockdowns” e medidas mais impactantes para combater a tão temida segunda onda. Ou seja, a pandemia, infelizmente, continua firme e forte, mesmo com a vacina às portas das terras tupiniquins, os casos se multiplicam e cidades como Manaus voltam a ter superlotação das UTIs. Na Bahia, o governador Rui Costa prorrogou o decreto que proíbe a volta às aulas e a realização de shows até o próximo dia 15. Em Brumado, segundo declarações do prefeito Eduardo Vasconcelos a previsão é que as aulas na rede municipal de ensino retornem no dia 11, só que isso ainda não foi confirmado oficialmente, e, agora, com esse novo decreto estadual isso poderá ter que ser postergado. Relatos de pais dizem que os filhos que cursam a Educação Básica estão muito estressados, já que vai para quase um ano confinados recebendo somente ensino remoto, o que poderia aumentar ainda mais essa situação inquietante. Outro fator é o vácuo no ensino que poderá prejudicar os alunos, ainda mais se os mesmos forem aprovados sem os devidos testes, o que, futuramente, poderá resultar em grandes dificuldades, já que existe um planejamento e uma grade curricular específica para cada ano, as quais são totalmente conectadas, então, pular etapas pode promover uma geração sem o devido conhecimento didático. Realmente é um labirinto existencial imprevisível, então a pergunta dos educadores, parafraseando Shakespeare, neste momento é “voltar ou não voltar, eis a questão”.
A conquista do principal Oscar de 2016 por Spotlight premia não apenas um grande filme com um elenco magistral, no qual brilham Michael Keaton e Mark Ruffalo, mas consagra, sobretudo, o bom jornalismo. Dos concorrentes ao Oscar, Spotlight era o mais impactante em termos políticos, o que pode ter pesado na escolha como melhor filme do ano. Trata-se de um longa biográfico, que narra uma investigação jornalística desenvolvida por um time de repórteres que abalaria as estruturas da Igreja Católica. O filme se passa entre 2001 e 2002 em Boston, uma cidade americana de porte médio (645 mil habitantes). A história sacode o vespeiro que é a questão da pedofilia na igreja e mostra que jornalismo é fundamental, quando feito com independência, estrutura e determinação em investigar. Spotlight é honesto. Elenco e roteiro dão verossimilhança à história, sem se valerem de velhos clichês que costumam envolver histórias desse tipo, normalmente conduzidas por tipos caricatos de repórteres deslumbrados. O roteiro é sóbrio e ajuda a entender os bastidores de uma profissão difícil, compreendida por poucos. Pressões e porta na cara de jornalista estão lá, ameaças, além de tentativas de acobertar informações que deveriam ser de acesso público. The Boston Globe possui uma equipe de repórteres especializados em investigação, chamada de Spotlight. Eles podem ficar meses debruçados num assunto e não conseguir êxito. Ou então puxar o novelo de uma grande história, de impacto mundial, a exemplo dos escândalos na igreja. E ter a coragem de publicar. Mostrando os fatos, sem contemporizar, com o destaque que merecem ter. A despeito dos conchavos que uma instituição poderosa pode sugerir. A pauta sobre pedofilia na igreja já estivera à porta do Boston Globe em outras ocasiões, sem receber atenção. Foi preciso chegar um novo editor, Marty Baron, vindo de outra cidade, talvez por isso descontaminado pelo tipo de relações locais. É ele quem incentiva a equipe a levar o assunto adiante.
Em uma passagem marcante, o arcebispo sugere um acordo de cavalheiros ao editor, para que não prossiga com a pesquisa. “A cidade desponta com a aproximação de suas grandes instituições”, diz o arcebispo. “Obrigado. Sou da opinião de que um jornal só desempenha bem suas funções se for independente”, rebate, de forma direta, Marty Baron. E ele, direção e repórteres levaram mesmo à frente, após um ano de apuração, para o bem do jornalismo e das centenas de crianças que foram violentadas ou poderiam vir a ser não fosse os fatos se tornarem públicos. Uma cobertura desse tipo revela o que há de essencial no jornalismo: investigar e produzir histórias que possam causar transformação social. Mas a história só foi possível pela coragem dos repórteres e da própria direção do jornal – não apenas em publicar, mas em financiar uma equipe de investigação, o que custa caro. Times como o Spotlight estão em extinção nas redações dos médios e grandes jornais, que tentam reduzir custos de todas as maneiras. Spotlight mostra aos não iniciados que jornal diário sério não é jogar confete. Ao menos nas publicações que pretendem ser relevantes e, por isso, tendem a ter um futuro possível, qual seja a plataforma. Ao passo que o jornalismo mambembe, preguiçoso, subjugado pelas conveniências, voltado a interesses menores, esse será difícil vender para leitores cada vez mais críticos e detentores de um universo de informações disponível sem custos na internet e redes sociais. Os jornais importantes não têm de trazer grandes escândalos todos os dias. É impossível. Mas têm de estar preparados para cobri-los, tendo disposição de investigá-los sem aceitar a primeira explicação. Sem se contentar com a versão oficial. É essa relevância, quando vista na prática, que faz do jornalismo algo sensacional e indispensável. Spotlight é um sopro de esperança num meio marcado pela instantaneidade das informações. Que ajude despertar a luz do jornalismo investigativo em outros periódicos, para que mais histórias com poder de melhorar o mundo possam ser contadas. Isso é mais importante que qualquer Oscar.
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Guilherme Bittar é jornalista e editor-chefe do jornal Diário do Sudoeste, no Paraná