Prefeito de NY dá aval a Trump para acessar prisão em busca de imigrantes
- Por Victor Lacombe | Folhapress
- 14 Fev 2025
- 08:25h

Foto: Reprodução / YouTube
O prefeito de Nova York, Eric Adams, anunciou nesta quinta-feira (13) que vai liberar o acesso de agentes de imigração do governo federal à prisão de Rikers Island para que busquem imigrantes, Isso faz dele o primeiro político do Partido Democrata, de oposição a Donald Trump, a colaborar abertamente com a rígida política anti-imigração do novo presidente dos Estados Unidos.
Antes de fazer o anúncio, Adams se reuniu com Tom Homan, principal autoridade do governo Trump para imigração, para discutir como a cidade, a mais populosa dos EUA e onde vivem milhões de imigrantes, pode cooperar com os planos de deportação em massa do republicano.
"Vamos permitir que agentes do ICE [Serviço de Imigração dos EUA] nos auxiliem em investigações, em especial aquelas focadas em criminosos violentos e gangues", disse Adams, que foi eleito em 2021 e atualmente está cercado de acusações de corrupção.
A reunião ocorre dias depois de o Departamento de Justiça, já sob o controle da indicada de Trump, Pam Bondi, decidir arquivar as investigações que conduzia contra Adams, sob a justificativa de que fazê-lo era necessário "para que o prefeito de Nova York pudesse cooperar com os planos de imigração do presidente". A decisão fez com que uma procuradora federal de Nova York e dois funcionários da pasta da Justiça em Washington pedissem demissão em protesto.
Adams disse que vai emitir um decreto permitindo o acesso dos agentes do ICE à prisão de Rikers Island, mas ainda não está claro se uma ordem assim pararia de pé na Justiça -a cidade de Nova York tem leis rígidas proibindo a cooperação de autoridades locais com o governo federal quando o assunto é deportar, e a Câmara de Vereadores, controlada por democratas de esquerda, deve questionar a autoridade do prefeito para alterar essa política.
Até 2014, por exemplo, o próprio ICE tinha um escritório em Rikers Island que usava para facilitar deportações de imigrantes condenados por crimes. Entretanto, após a aprovação das chamadas "leis santuário" por Nova York, o órgão foi obrigado a se retirar.
Na quarta-feira (12), a secretária de Justiça, Pam Bondi, anunciou que o governo federal vai processar o estado de Nova York para derrubar uma lei que oferece a imigrantes em situação irregular a possibilidade de tirar uma carteira de motorista.
Segundo Bondi, a legislação "prejudica a capacidade do estado de cooperar com as autoridades migratórias do governo federal" e demonstra que Nova York "prioriza imigrantes ilegais, não cidadãos americanos".
Se o governo Trump for bem-sucedido no processo, vai acabar com um dos principais mecanismos por meio do qual imigrantes em situação irregular se integram à vida pública nos EUA. Isso porque não existe um documento de identificação a nível nacional no país -cada estado tem suas próprias regras e, na maioria deles, a carteira de motorista é a documentação mais comum.
Dessa forma, em estados nos quais as autoridades não pedem comprovação de status migratório regular à pessoa que busca o documento, essa se torna a porta de entrada para que um imigrante em situação irregular possa acessar uma série de serviços -como abrir uma conta bancária, entrar em programas de assistência do governo, acessar o seguro desemprego, assinar contratos de aluguel ou de compra de imóveis, e se casar, entre outros.
Uma vez derrubado esse precedente na Justiça, a vida de imigrantes em situação irregular nos EUA poderia ficar consideravelmente mais difícil, e não apenas no estado de Nova York. Se o governo Trump levar o processo até a Suprema Corte, de maioria conservadora formada pelo próprio Trump, a decisão pode valer para todo o país.