Efeito bumerangue: como Salvador pode ser impactada pela vinda de pacientes do interior

  • Correio
  • 03 Ago 2020
  • 09:19h

Ambulância de Candeias faz transferência de paciente para hospital de covid-19 em Salvador (Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Depois de dois dias entre um hospital e uma clínica particulares, em Candeias, na tentativa de encontrar leito disponível para o irmão diagnosticado com covid-19, Roberto Oliveira já se encontrava cansado e estressado por não ter ideia do que fazer diante da inexistência de vagas para a doença na cidade. Vendo o quadro se agravar, um médico amigo da família, então, arrumou uma vaga na UPA de Itapuã, em Salvador, a cerca de 50 Km. Foram três dias em que Nelson, o irmão, ficou internado lá, mas a doença foi evoluindo. Era preciso migrar da enfermaria para uma UTI e então a saga da família reiniciou.“Foi um processo, não foi nada simples”, resume Roberto. Era por volta das 21h de uma sexta-feira quando ele recebeu uma ligação chorosa do irmão, que pedia ajuda. No sábado, o pessoal saiu de Candeias de novo para encontrar uma UTI na capital.A realidade da família é a de tantas outras que, sem infraestrutura médica e hospitalar no lugar onde moram, vivem o drama da necessidade de recorrer à capital. Em Salvador, os pacientes têm vindo, principalmente, de Feira de Santana e Lauro de Freitas, cidades que ocupam o 2º e 4º lugar em número de casos na Bahia. A interiorização da doença, estimulada ainda pelos efeitos do São João, ameaça a capital baiana, que pode sofrer sobrecarga do sistema de saúde, segundo alerta de pesquisadores do Consórcio Nordeste.

Cidade que mais envia pacientes para Salvador, Lauro de Freitas, na região metropolitana, não possui unidade com leitos de internamento de covid-19 e já encaminhou 305 infectados para a capital desde o começo da pandemia. Contando com estes pacientes, só as 10 cidades que mais pediram regulação para Salvador enviaram, ao todo, 1.263 pessoas até sexta (30), das quais 167 foram internadas em unidades de gestão municipal e as 1.096 restantes foram atendidas na estrutura estadual. Até a semana passada, 6.740 pacientes de outras cidades baianas foram recebidos, sendo que 1.746 (26%) foram atendidos em unidades municipais e 4.994 na rede estadual (74%). 

Além de Lauro e Feira, o ranking de maior número de transferência de pacientes segue com Simões Filho, Santo Antônio de Jesus, Candeias, Alagoinhas, Itaparica, Camaçari, Catu e São Francisco do Conde, segundo informações da central de regulação da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab).

No início de julho, o prefeito ACM Neto (DEM) disse que, logo no início da pandemia, o número de pessoas que moravam em Salvador e ocupavam leitos chegou a 90%. Na metade do mês, esse número era inferior a 60%, afirmou ele, apontando que as vagas da capital passaram a ser disputadas também por pessoas do interior. “Nós jamais fizemos qualquer discriminação com quem é do interior ou da capital. Estamos aceitando receber todo mundo. O sistema é um só e a vida do interior importa tanto quanto a vida da capital”, declarou.

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