Opinião: Anistiar tentativa de golpe é prêmio para crime contra a democracia
- Por Fernando Duarte / Bahia Notícias
- 14 Abr 2025
- 08:09h

Foto: Reprodução/ Redes sociais
Já não é novo o movimento da extrema-direita no país ao pautar o PL da anistia geral para os envolvidos na tentativa de golpe, que culminou no fatídico 8 de janeiro de 2023. O principal beneficiário do projeto seria o ex-presidente Jair Bolsonaro, que tenta incorporar o discurso de que eventuais excessos do Supremo Tribunal Federal (STF), por motivações políticas, expõem senhoras e senhoras de idade à prisão por se manifestarem publicamente. Como a arena política foi deslocada para redes sociais, o assunto acabou tomando parte até mesmo das conversas familiares. No entanto, é preciso ficar claro que anistiar golpistas não tem como ser prioridade em meio ao momento sociopolítico que passa o Brasil e o mundo.
Na última semana, o líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante, anunciou que conseguiu o mínimo de assinaturas para que o PL tramite sem passar pelas comissões, diretamente ao plenário. Foi uma vitória expressiva, apesar de toda mobilização contrária de lideranças do Legislativo, do Executivo e do Judiciário. Mais uma vez, os parlamentares preferem olhar para o próprio umbigo, ao invés focarem em reais problemas nacionais. E por que a anistia não é um problema nacional?
Porque ela busca beneficiar brasileiros que, intencionalmente, tentaram abolir a democracia, após ficarem insatisfeitos com o resultado das urnas. Essa acusação é válida para Bolsonaro e seu entorno, que pautaram a descredibilização das eleições desde 2018 – quando emergiram das urnas como vitoriosos. E também para aqueles que, impulsionados por informações imprecisas (por vezes falsas), seguiram em efeito manada durante meses em acampamentos pedindo intervenção militar e, naquele 8 de janeiro, caminharam para as sedes dos três poderes da República para destruí-los – com o uso do advérbio literalmente com muito pesar. Houve um atentado à soberania do país que, felizmente, não logrou o êxito almejado.
O governo atual, que assumiu sob desconfiança de quase metade dos eleitores, não conseguiu convencê-los de que houve melhorias. Tanto que um marqueteiro político foi convocado para tentar reforçar a comunicação e as eventuais conquistas desses anos pós-apocalípticos dominados pela extrema-direita. Entretanto, a economia não retomou o vigor desejado, as reformas esperadas acontecem a passos lentos e a articulação política de Luiz Inácio Lula da Silva segue batendo cabeças – vide a desastrosa declaração da hoje ministra Gleisi Hoffmann sobre a anistia e a reação do STF. Sem contar a nova ordem mundial imposta pelo “ídolo bolsonarista” Donald Trump. Há um vão grande entre a realidade e a expectativa criada e alimentada por uma máquina de distorções e imprecisões conduzida pelos adversários, que seguem controlando o debate público – ainda que sob influência de plataformas de redes sociais, algumas públicas e outras privadas.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), terá o primeiro grande teste de fogo no comando da Casa quando decidir como enfrentar esse monstro ficcional criado pelo PL e por Bolsonaro e simbolizado por uma “pobre cabelereira” condenada a 14 anos de prisão por “pichar de batom” a estátua do STF. Como se os outros crimes de Débora Rodrigues, como associação criminosa e tentativa de golpe de estado, fossem tão pequenos que merecessem ser anistiados. O signo Débora é, na verdade, uma ressignificação do antipolítico que se tornou “mito” e virou presidente da República chamado Jair Bolsonaro. Sem dar nomes aos bois, pautar a anistia no Congresso Nacional é viver a utopia que a extrema-direita viveu nos 4 anos de Bolsonaro no poder ou aquela que a esquerda sob Lula julga que o Brasil vive um momento excepcional, se não fosse a existência da oposição.