RUIVALDO: O NOME MAIS DOCE PRONUNCIADO NA UNEB
- João Batista de Castro Júnior
- 31 Mai 2020
- 13:48h
Em fevereiro do ano passado fui a São Paulo, onde fui submetido a uma delicada cirurgia sob anestesia geral. Preferi ir sozinho para não ocupar os tantos amigos e amigas que sempre gentilmente ofereceram seus valiosos préstimos em minha vida.
Se naquela hora, entretanto, pudesse escolher uma companhia, seria Ruivaldo. Mas não havia como. Ele já estava diagnosticado com câncer de estômago e se encontrava em Salvador se preparando para a cirurgia de remoção do órgão. Após a intervenção cirúrgica a que fui submetido, alterei o roteiro de minha viagem de retorno e segui para nossa capital baiana.
Estando lá, um UBER me levou até a casa da mãe dele, no IAPI. A felicidade dele em me ver ali foi algo que nunca esquecerei. Abracei-o e dei-lhe de presentes alguns exemplares de mangostão, que tinha comprado com esse fim no Mercado Municipal de São Paulo, uma fruta mais que deliciosa que ele não conhecia mas exultou em provar.
As horas que passamos juntos em companhia de sua mãe e irmãos foram só de boas risadas. Os assuntos variaram sobre literatura, inclusive espírita, rumos acadêmicos, recomeços. Ele me apresentou à mãe como um grande amigo e eu então revelei a ela: “lembro-me como se fosse hoje de quando conheci seu filho no pátio da UNEB, perto de umas cadeiras. Ele queria falar com o Coordenador do Curso e eu me apresentei dizendo que estava falando com o dito-cujo. Rimos, demo-nos as mãos e nos abraçamos”.
Contei a ela também que senti, naquele instante, como se já conhecesse aquele homem, apesar de essa ser uma frase tão batida. Mas era verdade. Cultivamos uma amizade tão quintessenciada a partir dali que pedi desculpas aos demais colegas para dizer que ele era meu candidato à sucessão na Coordenação, o que todos fraternalmente aceitaram. Infelizmente, por um detalhe normativo da UNEB, não deu certo. A Universidade perdia de ter aquele que seria o mais humano dos seus Coordenadores.
O entusiasmo que se levantou com a presença de Ruivaldo na UNEB era partilhado por todos. Como Coordenador, me cabia obrigatoriamente fazer o possível para que aquele espírito de luz ali permanecesse a bem da nossa comunidade acadêmica. Apesar de afirmar estar gostando da experiência sertaneja, sempre dizia da justificada necessidade de estar em companhia da esposa Laura e das filhas Sofia e Luísa, que residiam em Salvador.
Então, me acudiu uma ideia para impedir que ele um dia pedisse remoção para Camaçari, para onde em realidade prestara o concurso docente: oferecer a ele uma vaga que me tinha sido dada na UNIGRAD para lecionar na pós-graduação em Guanambi. Ele aceitou e ficou maravilhado com a cidade. Logo em seguida, fui contactado por alguém da UniFG para saber de meu interesse em lecionar lá. Não deu outra: era no fundo a oportunidade de Ruivaldo. Disse a ele que tinha recusado mas indicado o seu nome. Difícil descrever a minha alegria e a dele também ao revelar que, por conta disso, tinha decidido se mudar com a família para o sertão.
Tudo o mais que eu possa falar de meu amigo que nunca deixou de me chamar de “irmão” já é conhecido da comunidade acadêmica da UNEB em Brumado: um sujeito iluminado como poucos, que parecia flutuar na bondade e na paciência com que a todos tratava. Um baita professor de Penal e Processo Penal que encantou os estudantes pela magna competência.
De Ruivaldo, se tivesse que fazer uma síntese, lançaria mão das palavras de Emmanuel para dizer que foi um cara que ligou “a lâmpada do coração à usina do Amor de Deus”.
A UNEB teve a honra de tê-lo como professor. E que saiba usufruí-la pela eternidade, porque certamente não teremos outro assim. A Universidade em Brumado perde o mais humano dos seus docentes.
Jesus o abençoe, meu amigo. Privei da companhia da nobreza espiritual a seu lado e sou muito orgulhoso disso. Nos reencontraremos qualquer dia desses. Mas quero deixar bem claro que, mesmo sabendo disso, me sinto só nesse mundo sem companhias tão beneméritas a me ajudar, ainda que silenciosamente, no processo de crescimento emocional.
Vitória da Conquista, Bahia, 29 de maio de 2020.