Após 15 anos, mulheres continuam sendo minoria nos cursos universitários de ciência

  • 08 Mar 2017
  • 19:17h

Elisa Orth é cientista na UFPR e busca encontrar alternativas para combater o excesso de pesticida que é usado nos alimentos (Foto: Divulgação/L'Óreal)

As mulheres representam 60% das pessoas que concluíram cursos superiores no Brasil em 2015, de acordo com o Censo da Educação Superior. No entanto, quando são considerados apenas os cursos relacionados às ciências (biologia, farmácia, engenharias, matemática, medicina, física, química, ciência da computação, entre outros), a participação feminina cai para 41% - índice que não registra aumento desde 2000. Considerando isoladamente os cursos de engenharia, o desequilíbrio entre homens e mulheres é ainda maior: dos 81.194 estudantes que se formaram em 2015 no país, 29,3% são do sexo feminino e 70,7%, do masculino. Nesse segmento, apesar da desproporção, houve avanço nos últimos anos: em 2000, as meninas representavam 22,1% dos concluintes de engenharia. Especialistas também comentam as razões de ainda existir desigualdade de oportunidades.

Brincadeira de menino, profissão de menino

Na adolescência, as mulheres continuam enfrentando os rótulos: as “brincadeiras de menino” viram “profissões de menino”. Thalita Pinheiro, de 17 anos, é estudante de escola pública em São Paulo e quer cursar engenharia civil – mas sua família crê que ela deveria seguir a carreira de pedagoga. “A gente aprende a ser dona de casa, não a construir a casa. Foi difícil discordar dos meus pais, mas desde que conheci laboratórios, tive a certeza de que era ali onde eu queria estar”, afirma a menina. Ela faz um curso de desenho online e, três vezes por semana, tem aulas de edificações em uma escola técnica. Para enfrentar o preconceito, Thalita conta com o apoio do professor de matemática. “Ele procura cursos para mim e me mostra que é possível. Eu não ouvi de ninguém que engenharia poderia ser para mulher também – e isso me fez falta. Meu colega diz que sou frágil, que não vou me adaptar. Mas sei que tenho capacidade”, diz. A escola e a família são elementos importantes para incentivar as meninas a entenderem que podem seguir qualquer carreira – inclusive as de ciência. Jamile Falcão, de Fortaleza (CE), teve o apoio de ambas para ser a única menina medalhista de ouro na Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) 2016, aos 14 anos. Ao todo, foram distribuídas 22 medalhas de ouro naquela edição da OBM. Ela conta que tinha dificuldade em entender os enunciados dos problemas matemáticos, mas recebeu ajuda da irmã mais velha e “as coisas começaram a fazer mais sentido”. “Queria participar de olimpíada, mas minha escola em Pacaju (interior do Ceará) não demonstrou interesse em me apoiar. Então fui morar com as minhas irmãs em Fortaleza e a escola nova fez toda a diferença. Os professores tiram dúvidas e não cultivam diferença de gêneros”, conta.Jamile ainda não sabe se quer seguir a carreira de engenharia ou de medicina – mas diz já perceber que enfrentará preconceito. “Tento ignorar e caminhar para frente. A sociedade ainda tem esse comportamento de dizer que só garoto consegue as coisas, como se ser menina fosse alguma limitação. Tive a sorte de crescer em uma família que não cultivou isso. Nem todas as minhas amigas têm essa liberdade”, completa.