7 de Abril - Dia do Jornalista: As mudanças do jornalismo na modernidade

  • Por Magda Pontes
  • 07 Abr 2016
  • 15:12h

Comunicar-se é desde o início dos tempos uma ação inerente ao ser humano. Podemos traçar uma linha da evolução do homem através do desenvolvimento da fala, da escrita e dos meios de comunicação. A informação, que em suma são dados sobre alguém ou alguma coisa, é parte condizente da comunicação e tão importante na formação da sociedade quanto, como nos lembra Dominique Wolton, em sua obra Informar não é Comunicar: “A informação, em todos os sentidos dessa palavra e com todas as ambiguidades imagináveis, é um dos valores centrais das nossas sociedades abertas cobrindo todos os campos, do mais nobre e normativo ao mais banal e funcional”. (p. 49) No entanto, embora esteja interligada ao processo de comunicação, as duas coisas não devem ser confundidas, por se tratarem de dois processos distintos, conforme veremos adiante. É importante ressaltar que no ponto de vista da vida humana comparada a épocas anteriores, o modo de se comunicar que temos hoje representa uma mudança no comportamento da sociedade e exerce influencias significativas no desenvolvimento do pensamento, no comportamento, no posicionamento político/ideológico e no convívio social. Antes do advento das novas ferramentas e da internet, a produção e disseminação de informação era feita de forma linear e hierárquica. O emissor emitia a mensagem para o receptor, em um processo praticamente sem interferências. Em nosso tempo, já não é nítida a separação entre emissor e receptor de notícias, jornalista e consumidor de mídia. Todos nós, de certo modo produzimos e recebemos informação. Com a tecnologia o processo de difusão destas informações possui proporções nunca antes presenciadas pelo homem.

 

Por exemplo, qualquer pessoa com acesso a internet pode criar um blog para produzir material informativo e divulgar na rede. Não é mais necessário estar em uma grande mídia para distribuir conteúdo. Além do que, a informação não é mais posse de pequenos conglomerados. O Wikileaks, organização sem fins lucrativos, que publica em sua página conteúdo com informações confidenciais vazadas de governos e grandes empresas, é o maior exemplo de a rede democratizou o acesso à informações. Todavia, do mesmo modo que a internet e a tecnologia facilitaram a disseminação de informação, elas também abalaram de forma significativa a essência do conteúdo transmitido. Ou seja, aumenta-se a quantidade e diminui-se a qualidade. Dominique Wolton diz em seu livro que: “Mais informação não cria mais diversidade, mas, antes, mais racionalização e mais uniformização, pois a concorrência desenfreada leva paradoxalmente a que todos abordem a mesma coisa, da mesma maneira e no mesmo momento.” (p. 50) Ou seja, pelo fato de todos produzirem informação e tudo ser consumido rapidamente e em tempo real, as grandes mídias acabam pautando-se uma com as outras. Se um portal aborda uma notícia, outro logo abordará também, pois não quer correr o risco de perder leitores. Assim, o espírito de competição afeta significantemente a produção de conteúdo relevante. A informação sempre foi à base do espírito crítico. Quanto mais dados e conhecimento acerca do mundo, mais embasamento se tem para discutir a sociedade e nosso papel enquanto cidadãos. Porém, com a velocidade com que notícias são disseminadas na rede e com a quantidade de pessoas que escrevem e publicam conteúdo, as informações perdem em pontos fundamentais, como aborda Dominique:“Abertura insuficiente, ausência de comparações e, com freqüência, excesso de clichês e de estereótipos”. (p. 51) Sendo assim, a matéria vinculada, corre o risco de embora ter a intenção de informar não atende requisitos que uma informação necessita. Não há mais aprofundamento nos temas e nas notícias. É preciso divulgar rapidamente o que já foi divulgado por outro. A preocupação com dados que sejam de fato relevantes é deixada de lado, para atender a rapidez da rede; O autor completa ainda, dizendo que: “Há uma corrida desenfreada para vencer a concorrência. Se todo mundo vê e sabe tudo, é preciso ir muito mais rápido, em detrimento da compreensão de acontecimentos cada vez mais complexos”. (p. 51) Ou seja, noticie, acompanhe a concorrência, sem tempo para análises completas e minuciosas. Outro fator relevante que perde com a rapidez da disseminação de informações na rede, é a credibilidade da fonte, uma vez que, quando todo mundo escreve sobre tudo, há uma grande fusão entre opinião e informação, o que prejudica a essência jornalística. Com o período eleitoral do Brasil, temos exemplos claros dessa mídia imediatista e imprecisa. Com o debate político em alta entre o público, principalmente nas redes sociais, com informações e links sendo compartilhados em peso dia a dia, a grande imprensa se vê na obrigatoriedade de “correr” com informações atualizadas para chamar leitores. Além dos grandes jornais, que construíram ao longo dos anos a imagem de credibilidade – como Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo – pequenos títulos possuem força na web, e sobre o pretexto de informar, disseminam campanhas políticas, favorecendo dados que induzem o leitor, confundindo mais uma vez opinião com informação.Mais do que em qualquer outro período histórico, as pessoas discutem e se posicionam com relação à política, no momento das eleições. No entanto, a quantidade de informações e textos que são disseminados sem checagem dos fatos, a falta de clareza de alguns veículos e não aprofundamento nas notícias, deixam os debates empobrecidos e rasos. Todo mundo fala de tudo, mas quase ninguém entende de nada. As expressões “coxinha” e “petralha” são usadas inúmeras vezes, em contextos de informação, deixando simplório e sem aprofundamento os textos e as informações.  Daí a citação importante de Dominique: “A questão da comunicação é o outro. Uma diferença quase antológica com a informação”. (p. 59) Ou seja, muitos textos ditos jornalísticos disseminados na Web no período eleitoral foram escritos muito mais com a pretensão de convencer o outro, não de informar. No caso das grandes mídias, perde-se também a identidade, por conta do medo de perder leitores, caso assuma uma posição, que contraria as preferências individuais. Mas, justamente pela falta de identidade dos veículos, Ramonet nos explica que raramente os leitores são fieis a um determinado título. Antes, ler regularmente um determinado jornal implicava ao leitor sua própria identidade política. Hoje, porém, a maior parte das publicações visando alcançar o maior número possível de público e driblar a concorrência desleal da internet, deixa sua linha editorial indefinida e não se aprofunda nos temas. É crescente também o número de imagens e infográficos, diminuindo o espaço para textos longos. O que nos chama atenção para outra mudança nas publicações de mídia atuais: não há mais tempo para grandes textos. As pessoas estão habituadas a informações curtas e textos adaptados de internet, que contam com, no máximo três parágrafos. As imagens são o ponto forte, junto com infográficos. O que parece é que, na modernidade, não há mais tempo para leituras de textos longos e aprofundados.


Mudanças nas publicações

Com a internet e o acesso cada vez mais popular a notícias e informações pela rede, as grandes empresas jornalísticas começaram a perder lucratividade. A partir do momento que o leitor tem acesso às informações de forma rápida e gratuita, ele automaticamente não vê mais necessidade de comprar jornal. Assim, os grandes veículos passam a depender cada vez mais de publicidade para se manter. Espaços cada vez maiores são dedicados a propagandas e o texto obviamente vai sendo cortado, além do número cada vez maior de infográficos e fotografias incluídas nas matérias. Outra tendência de nosso tempo são os jornais gratuitos, distribuídos diariamente, principalmente em lugares de grande circulação. Em São Paulo, títulos como Metrô News e Metro, são entregues todos os dias nas estações de metrô. Trata-se de jornais pequenos, que contém matérias curtas e sem nenhum tipo de aprofundamento. Estes veículos também são lotados de publicidade e impactam diretamente no consumo de outras publicações jornalísticas mais elaboradas. Com isso concluímos que uma sequência de fatores foi responsável pela mudança em se produzir notícia. A internet e seus desdobramentos, fez com a informação fosse democratizada; Grandes veículos perderam capital, por serem consumidos em menor escala por conta da internet; A publicidade, que seria o único modo de tampar os “buracos financeiros” ocupam cada vez mais espaço nos jornais; E por fim, veículos menores também em qualidade, começam a ser distribuídos, agravando a situação dos grandes jornais.