Professores deixam sala de aula e fazem sucesso na web com videoaulas

  • 12 Ago 2015
  • 13:03h

(Foto: Reprodução)

Já faz tempo que as videoaulas preparatórias para concurso público são transmitidas pela internet, mas  agora que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é pré-requisito para ingressar no ensino superior, elas também se tornaram uma febre entre os candidatos a uma vaga na faculdade desejada. Consequência disso, alguns professores que trocaram o quadro-negro pela câmera e o giz por ferramentas de design gráfico se tornaram verdadeiras celebridades, com milhões de seguidores nas redes sociais.O YouTube, site de vídeos mais popular da internet, já conta com a plataforma EDU (YouTube Educação), que reúne conteúdo para todas as disciplinas do ensino médio e fundamental. No entanto, para os educadores, a plataforma já não é suficiente. Além do Facebook para discutir algum assunto, ou até do WhatsApp para tirar alguma dúvida, há sites que contam com assinantes regulares. E a sala de aula, para alguns, já virou coisa do passado.

É o caso do professor Rafael Cunha, que dá aulas de português e redação no cursinho virtual Pré-Vestibular e Enem Descomplica. O escritório fica no Rio de Janeiro, mas Rafael tem alunos no Brasil inteiro e desde 2011 dá aulas exclusivamente pela internet. Ele começou a gravar os vídeos no final de 2010, a convite do professor de Física Marco Fisbhen, também do Descomplica.  “Ele (Marco) sempre teve angústia de falar com 50 alunos numa aula, depois falar a mesma coisa para mais 50 em outra, e dizia: ‘por que eu não posso fazer uma vez só e levar para muita gente?’”, conta Rafael. Na época, o professor gravou alguns vídeos  e o retorno foi bastante positivo.  O trabalho foi começando a ser feito de forma mais organizada e, hoje, o site  tem, em média, 8 milhões de acessos únicos por mês  - cerca de  400 mil por dia. Outro fenômeno é o professor de Biologia Paulo Jubilut. Há quatro anos, ele foi demitido de um cursinho em Curitiba (PR). “Eu pensei: ‘ah, vou parar de dar aula’. Eram quase 15 anos estudando, consumindo Biologia e, antes de seguir o meu caminho, eu decidi gravar minhas aulas e jogar na internet. Era meio que meu legado para a humanidade, só que começou a fazer sucesso”, conta Jubilut, que tem 4 milhões de visitas por mês no site Biologia Total. Conveniência Para o professor de Física Ivys Urquiza, que ainda dá aulas presenciais em Maceió (AL), quando o aluno busca uma videoaula aumenta a capacidade de concentração. “Ele está fazendo de forma pró-ativa o trabalho de estudante, que é diferente de quando ele está na sala de aula, onde ele está na conveniência dos pais, professores. Na internet, ele busca quando é conveniente para ele”, diz.A ideia é compartilhada por Jubilut, para quem é possível aprender muito mais com as videoaulas e em menos tempo. “Nela, ao contrário da aula física, você não tem o cara apagando o quadro, não tem troca de professor, não tem aquele cara contando historinha”, ilustra. Urquiza começou a compartilhar conteúdo na web em 2009. No início, tinha um blog e escrevia textos. Depois, com a insistência dos alunos, começou a fazer vídeos. De 2013 para cá, foram mais de 3,5 milhões de aulas assistidas. “Se eu fosse fazer isso presencialmente, precisaria de mais de 250 anos”, calcula ele, que já teve aulas assistidas até por índios do Amazonas.

Serviços
A maioria dos sites de videoaulas possui conteúdo gratuito e pago. No Descomplica, por exemplo, há um teste ao final de cada aula e também são feitos simulados mensais. Lá, também há aulas ao vivo todos os dias. O aluno que assinar o pacote - mensal ou anual - tem  redações corrigidas e aulas particulares.Já no site Física Total, do professor Urquiza, há, além das aulas, podcasts, simulados e material de leitura. O estudante também pode escolher assinar pacotes mensais, anuais ou para cursos específicos, como o Raio-X Enem, que começou ontem, e o Extensivo Medicina.O professor Jubilut preferiu personalizar o conteúdo.  Ao se cadastrar no site, o aluno “evolui” biologicamente de acordo com os avanços nos conteúdo. “Ele começa como bactéria e, à medida que vai avançando, chega a lêmure e isso motiva muito o aluno”, diz. Também é possível fazer um simulado que prioriza os conteúdos em que o estudante está mais fraco.

Dicas 
A dez semanas do Enem, o professor Rafael Cunha, de Redação, aconselha que os estudantes observem o tipo de texto que vem sendo exigido nos últimos anos, além de ler redações nota 1000 e as com pontuação mais baixa. “Não basta saber o que fazer, mas também o que não fazer”, indica. Na área de Física, o professor Urquiza diz que o estudante deve focar, agora, nos conteúdos que mais caem na prova. “Hidrostática, fenômenos ondulatórios, termodinâmica e eletrodinâmica básica”, cita. Já Jubilut sugere atenção para temas atuais. “Assuntos que estão fortes são a questão da dengue, da crise hídrica no Sudeste... também dá para fazer bastante perguntas sobre o aquecimento global”, exemplifica.

Faturamento fez professores deixarem sala de aula
Além de levar conteúdo para mais gente, produzir videoaulas é um negócio bastante rentável em muitos casos. O professor de Português e Redação Rafael Cunha, do curso Descomplica, por exemplo, não dá mais aulas presenciais desde 2011. Ele não conta quanto ganha por mês, mas garante que a produção online,  muitas vezes ao vivo, paga bem melhor do que as aulas presenciais.  “O professor recebe uma hora-aula significativamente maior do que a média de mercado. No Rio de Janeiro, eu suponho que, num curso de alto nível, fica em torno de R$ 60 a hora-aula. Nas videoaulas, o valor é bastante mais significativo”, garante. O Descomplica tem hoje uma equipe com mais de 120 profissionais. Desde que foi demitido do cursinho onde dava aulas em Curitiba (PR), o professor Paulo Jubilut, de Biologia, também tem se dedicado à plataforma online. Mas ele explica que não é só disponibilizar as aulas. “O aluno paga R$ 20 e tem tudo lá dentro do site: tem tecnologia que mostra o que ele tem que estudar, o que ele tem de desempenho em relação aos outros. Tem gente que não gosta de mim, mas assina o site só para ter acesso ao material”, comenta ele, fazendo propaganda do site Biologia Total. Além das videoaulas (ao vivo e gravadas), professor Jubilut também é consultor de Biologia no programa Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo, e escreve colunas para empresas. Já o professor Ivys Urquiza, de Física, afirma que reduziu em 40% a carga horária em sala de aula este ano. No tempo livre, se dedica à internet e até a palestras. Ele estipula um valor de R$ 150 para cada vídeo pronto de 15 minutos. “Eu comparo o fenômeno das videoaulas com o que acontece no esporte: a maioria das pessoas que pensa em jogar futebol quer ter o salário de um Kaká, um Neymar. Mas, para cada um desses, tem 10 mil incógnitos. Eu, hoje, ganho mais com internet”, assegura.

Para especialistas, interação entre professor e aluno faz diferença
por Giulia Marquezini

Poupar tempo e fixar melhor os conteúdos são algumas das motivações que levam alunos a buscar mecanismos online na preparação para o Enem. No entanto, especialistas se dizem preocupados com a dependência que esse tipo de recurso pode criar e lembram que a interação entre professores e alunos pode ser um diferencial no aprendizado. “O aluno não pode achar que vai aprender somente através dos vídeos. As aulas são apoios pedagógicos que servem como revisão ou fixação de determinado conteúdo. Mas o vídeo não alcança a interação entre professores e alunos, que é muito necessária”, afirma Iris de Sá, psicopedagoga e professora da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Para a doutora em Educação e professora do Instituto Federal da Bahia (Ifba) Telma Brito, existe uma perda pedagógica nesse tipo de educação a distância. “O uso da tecnologia pode potencializar a aprendizagem, mas um bom projeto não pode deixar de ter interatividade com os alunos, onde é possível estabelecer um diálogo”, avalia. Estudante do 3º ano do Salesiano Dom Bosco, Bruno Alves, 16, conta que começou a assistir videoaulas por ter dificuldade em concentração no colégio. “Preciso sempre de muito silêncio para estudar, por isso assisto aulas no YouTube”, conta. Já Eza Lôbo, 17, do 3º ano do Colégio São Paulo, pondera sobre as vantagens das gravações. “Com a videoaula, consigo ver a explicação várias vezes, mas não é a mesma coisa de tirar dúvidas com um professor”. 

CANAIS DE APRENDIZADO
Física Total - Ivys Urquiza youtube.com/FISICATOTAL
Descomplica youtube.com/sitedescomplica
Biologia Total - Paulo Jubilutwww.youtube.com/jubilut
Vestibulândia - Nerkie youtube.com/user/nerckie
Matemática Rio -  Rafael Procopio youtube.com/user/matematicario
Química em Ação - Paulo Valim youtube.com/user/plvalim
Stoodi youtube.com/user/stoodibr
Marcelão da Química www.youtube.com/user/cecelobeni
Me Salva! www.youtube.com/user/migandorffy