A pinga das luluzinhas: mistura de cachaça, mel e limão conquista fashionistas

  • POR LIFESTYLE
  • 03 Jan 2014
  • 20:28h

MARINA FUENTES

Não é de hoje que a cachaça deixou a pecha de bebida barata e popular para conquistar os copos de boêmios patriotas e connaisseurs. Uma movimentação mais recente levou a boa e velha pinga também para a balada, mais precisamente para as mesas e festinhas frequentadas pela alta-roda. Mas não se trata de uma pinga qualquer. Para horror dos puristas, a cachaça fashion, batizada de Busca Vida, já vem com mel e limão, num mix com teor alcoólico reduzido (cerca de 17%, contra 40% da cachaça convencional). O resultado é uma aguardente suave, que equilibra o doce e o cítrico, indicada para ser consumida gelada – em shots, on the rocks ou como base para coquetéis. Em geral avessas ao sabor forte e cortante da cachaça, as mulheres encontraram nela uma alternativa para aquecer a noite sem precisar fazer careta a cada gole. Criador da fórmula, o empresário baiano Carlos Oliveira não imaginava o sucesso que a bebida faria quando realizou os primeiros testes em 1993. Ele tinha uma cachaçaria no Pelourinho e não se conformava ao ver as pessoas torcendo a cara enquanto tomavamo destilado nacional por excelência. “Desenvolvi uma mistura na época para agradar aos amigos e foi um sucesso. Mas como fazia artesanalmente, perdia tudo o que sobrava no fim da noite. Quando fui morar no interior paulista, no sítio que era do meu avô, passei a fabricar a aguardente que hoje está no mercado”, explica. Foi um processo de quatro anos entre criar a fórmula e conseguir o registro, já que o empresário inaugurou uma nova categoria de bebida. Da fábrica em Bragança Paulista saem hoje 20 mil garrafas por mês, que são distribuídas por diversos pontos de venda, sobretudo em bares nada populares do eixo Rio-SP – e que neste verão terão roupagem especial em edição limitada by Lenny Niemyer, outra adepta da bebida. “Em um almoço ganhei uma garrafa de Busca Vida e a entreguei nas mãos do Bruno, meu garçom oficial, que logo inventou um mix da cachaça com gengibre e muito gelo. Amei e agora sirvo sempre”, conta Lenny.

A Busca Vida foi a primeira,mas já não é a única a explorar esse território. Depois dela surgiram a pernambucana Santa Dose e a mineira B (pronuncia-se “bee”), ambas destinadas ao público premium. Empreitada de Nelsinho Piquet com os amigos Eduardo Jorge e Hendrik Wolff, a aguardente B miroudireto nesse novo consumidor que caiu de amores pela prosaica fórmula quase por acaso. Produzida em um alambique em Araguari, Minas Gerais, a cachaça viaja até São Paulo para passar pelos processos de mistura com os outros ingredientes e envase nas garrafas-design da francesa Saverglass – a mesma fornecedora da vodca francesa Grey Goose. De lá, desembarca nas prateleiras de hot spots como o Bar Número, em São Paulo,e Londra e Forneria São Sebastião, no Rio. Nesse último endereço, é comum ver o garçom rodando com bandejas abastecidas com shots da bebida para rodadas de esquenta. “Percebemos que havia um público interessado nesse tipo de bebida, mas que não era atendido pelo que se encontra no mercado. Fizemos,então, um rótulo super premium, da cachaça ao design da embalagem”, explica Eduardo Jorge. Já a Santa Dose nasceu a partir das boas experiências com a mistura – feitas à mão mesmo – de um dos sócios do Zé Bonito, bar na Vila Nova Conceição. “Nosso objetivo nunca foi criar uma bebida para quem toma cachaça. Nosso público gosta de coquetéis, uísque e vodca. Hoje, 60% dos consumidores da bebida são mulheres”, avalia Bruno Siqueira, um dos nomes por trás da Santa Dose. Marcela Tranchesi foi uma das que adotaram o mix como seu drinque oficial. “É ótimo pois é docinho, gostoso de beber e também muito prático, porque não precisa misturar com nada, já vem pronto. Sempre tenho em casa para levar nos esquentas ou para presentear os amigos – gosto especialmente da B, que é menos doce”, elogia ela, que vive compartilhando cliques com o indefectível shot gelado no Instagram. Apesar de tecnicamente não se tratar de uma cachaça (que deve ter no mínimo 38% de teor alcoólico e não pode receber aditivos), não dá para negar que o sucesso da versão “party” do destilado faz bem para a moral da bebida nacional. É um movimento parecido com o da vodca, bebida que ganhou versões premium e outras aromatizadas ou “ice” que agradam também quem acha a versão pura forte demais. Depois de a cachaça aromatizada conquistar paladares brasileiros, o próximo passo é o consumidor internacional. A Santa Dose já é exportada para Portugal e França; a Busca Vida chega aos EUA, ao Caribe e à Inglaterra; e a B fez suas primeiras experiências na
última edição da conceituada feira Wine and Spirits. “A Copa será a grande oportunidade de apresentarmos a bebida aos estrangeiros”, diz Bruno Siqueira. Alguma dúvida de que os gringos vão amar?