Produção conquistense grava em várias regiões da Bahia

  • Blog do Fábio Sena
  • 02 Dez 2013
  • 19:10h

(Divulgação)

Depois de seis meses de pesquisa por 21 localidades baianas e mais de 50 horas de áudio de entrevistas, a equipe do curta documentário “Contra o Veneno Peçonhento do Cão Danado” já está na fase de produção, na qual serão registrados os depoimentos para a obra. A etapa prevê a gravação com estudiosos, memorialistas e, sobretudo, pessoas que ainda hoje mantém a tradição oral de causos, estórias, testemunhos e relatos sobre o “corpo fechado”. As gravações acontecem em várias localidades das regiões Sudoeste, Chapada Diamantina, Recôncavo e região metropolitana de Salvador. A produção é da TV Local e do Instituto Mandacaru e conta com o patrocínio da Secretaria de Cultura da Bahia (Secult). O projeto é um dos finalistas do edital 2012, setorial audiovisual, da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), órgão da Secult. Na época, foi selecionado em quarto lugar na colocação geral, e em primeiro entre os projetos do interior do estado. O documentário conta ainda com o apoio da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb).

Muitos causos, filmes, novelas e inúmeros livros que relatam os sertões baianos da metade do século XIX e ao longo do XX dão conta da crença de que o corpo de algumas pessoas era “fechado”, ou seja, invulnerável tanto a armas de fogo quanto a golpes de arma branca. Geralmente, são relatos sobre pessoas famosas, sejam criminosos ou autoridades. “A crença no corpo fechado é mais que uma peculiaridade nordestina, faz parte da cultura popular brasileira”, detalha Marcelo Lopes, coordenador do projeto. Segundo Lopes, o curta pretende alinhavar as várias histórias e causos sobre o tema. “O documentário busca ser um espaço para esses relatos, sem a preocupação com a discussão sobre o que é verdade ou mito, queremos registrar o que, no passado, era transmitido oralmente e hoje vem se perdendo com o avanço da urbanização”, esclarece. Para ele trata-se de um universo histórico e mágico, que na crença do “corpo fechado”, materializa-se em narrativas de guerra e violência, disputas de poder político e mitos populares. Uma das histórias a ser retratada é a do subdelegado Afonso Lopes Moitinho, uma das figuras centrais da “Chacina do Tamanduá”, ocorrida no final do século XIX, na então Imperial Vila da Vitória – hoje a cidade de Belo Campo. Moitinho era tido por muitos como um homem de corpo fechado, uma imagem que reforçava seu papel de autoridade. Segundo a crença popular sua morte somente seria possível se tivesse sua cabeça cortada e pisada num pilão: a mesma crença afirmava que este foi o seu fim. A obra se destaca num cenário mais otimista para a produção audiovisual conquistense. Desde 2012, a cidade é palco de duas produções audiovisuais com o patrocínio da Secult. A produção local é maior, pois a essas duas somam-se obras de produtores independentes e produções dos alunos do curso de Cinema da Uesb. “Conquista tem uma relação íntima com o cinema, é a terra de Glauber Rocha, vem pensando cinema por meio de iniciativas como o Janela Indiscreta e a Mostra Cinema Conquista, e agora, eu acredito, chegou o momento de também produzir”, detalha Lopes.