Vips manifestam apoio a Aécio e Dilma em meio à disputa acirrada

  • Alexandre Galvão
  • 19 Out 2014
  • 12:02h

O acirramento da disputa presidencial colocou uma enxurrada de celebridades em campos opostos nestas eleições. A ponto de provocar bate-bocas em tom de agressão, como as declarações feitas pelo ator Dado Dolabella, eleitor de Aécio Neves (PSDB), contra o também ator Gregório Duvivier, apoiador convicto de Dilma Rousseff (PT). Na Bahia, o racha entre personalidades e artistas também se reflete, embora ainda sem descambar para a deselegância. Nesta reta final de segundo turno, o CORREIO ouviu 15 cabos eleitorais vips. Parte se coloca ao lado do tucano. Parte, junto à petista. O resto sobe o muro.  Entre os que manifestam voto abertamente nas redes sociais, está o compositor e músico Manno Góes, ex-baixista da banda de axé Jammil e Uma Noites e atualmente integrante do Alavontê. Ele nega  que seja cabo eleitoral d a presidente, mas admite seu viés pró-PT. “Eu não sou Dilma, sou Lula. Dilma é uma consequência dele”, disse. A identificação com a petista, no entanto, existe. “Dilma converge com tudo que eu penso em relação à política”, afirmou. A exposição do pensamento político é encarada com tranquilidade pelo músico, que disse já ter declarado seu voto em pleitos anteriores. 

“No Facebook, eu não sou artista. Eu acho que ninguém tem que ter a obrigação de declarar voto, mas ninguém também tem que esconder, né?”, avalia. Ex-parceiro de banda de Tuca Fernandes, que agora segue carreira solo, Manno se vê no campo oposto ao do ex-colega do Jammil. “Acho maravilhoso que ele tenha se posicionado. É do lado oposto, mas se tiver diálogo sobre as posições, não vejo problema. É construtivo”, analisa. Tuca, que aparece em vídeo oficial da campanha do tucano, diz acreditar no político mineiro pelo sentimento de mudança “que ele carrega”. “Conheço o Aécio há muito tempo. Além disso, tenho afeição pela pessoa dele, as propostas dele para o Bolsa Família, educação e fim da reeleição me fazem ter vontade de vê-lo presidente”, disse.  Mesmo com a surpresa de muitos pela aparição no programa do tucano na TV, o cantor diz já ter declarado sua preferência eleitoral em outras oportunidades, mas de maneira tímida. “Eu nunca declaro tão publicamente assim, mas dessa vez foi uma coisa mais explícita”, conta. A declaração de voto deve atrair eleitores para Aécio, segundo Tuca. “Eles (a equipe tucana) sabem que eu tenho um peso, principalmente com o público jovem”, gabou-se. Fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB), o polêmico antropólogo Luiz Mott é outro eleitor do tucano na Bahia, amigo de longa data do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC). Em recente postagem no Facebook, Mott, famosos por declarações que atiçam a ira dos conservadores, anunciou o apoio dele e do GGB a Aécio Neves. Por conta do posicionamento, recebeu críticas e ataques por parte de militantes petistas.  No meio artístico baiano, o ator e apresentador de TV Jackson Costa engrossa o coro petista, embora com ressalvas. “Não sei se o PT cumpriu tudo o que esperávamos, mas ainda assim, diante da situação, eu prefiro dar meu voto para Dilma”, afirmou. Entusiasta do campo das políticas culturais, o ator mostrou-se satisfeito com a gestão do partido na área.  “Todo partido tem erros, mas na cultura muita coisa fundamental foi feita enquanto Gilberto Gil era ministro, por exemplo”, relembrou. O mesmo Gil que motiva Jackson Costa a votar no PT tem hoje outra opinião. No primeiro turno, apoiou a candidata derrotada do PSB, Marina Silva, e compôs umas das músicas da campanha dela. Agora, declarou que ficará neutro na segunda etapa. Na contramão da neutralidade de Gil, está o cantor e compositor Jota Velloso. Sobrinho de Caetano Veloso e Maria Bethânia, ele migrou para a petista após ver Marina Silva ser derrotada. “Fiquei meio chateado com a forma com que o PT tratou Marina, mas acredito que, para fazer essa ligação do poder estadual e federal, é melhor Dilma”, defende.  Apesar de ter convicção do voto, Velloso elogia o debate aberto e diz que “ter Aécio e Dilma como candidatos faz bem à democracia. “Para quem saiu da ditadura há pouco tempo, temos bons nomes, mas falta os partidos se mostrarem mais. Ainda não conhecemos o PT de verdade e nem o PSDB. Eles têm que fazer acordos e sempre cedem em alguma coisa”, disserto Enquanto há intelectuais e artistas que se posicionam publicamente, há uma parcela dos eleitores vips que preferem a neutralidade ou o silêncio constitucional sobre o voto. Ex-participantes do The Voice, as cantoras baianas Aila Menezes e Jú Moraes preferem não se posicionar. “Estou muito dividida ainda, mas também muito triste com essa campanha. Não aparecem propostas, só alfinetadas”, reclama Aila. O cantor e compositor Carlinhos Brown, que foi técnico de Aila no programa, também segue a mesma linha. De acordo com a assessoria de Brown, ele “nunca declarou apoio e não pretende declarar”. Assim como o forrozeiro Adelmário Coelho. Amigo, segundo ele, de políticos do PT e do PSDB, o cantor diz ainda não saber em quem votar. “Estou analisando. Acho que na próxima semana já devo ter decidido. Gosto muito da Dilma, mas Aécio também tem boas ideias”, divide-se. Com a mais disputada eleição presidencial desde 1989, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves receberam adesão em massa de celebridades dos mais variados naipes. Do lado petista estão os cartunistas Ziraldo e Laerte os cantores Chico Buarque, Elen Oléria e Otto, o escritor Leonardo Boff e os atores Henri Castelli e Zé de Abreu são apenas alguns dos que engrossaram a torcida dilmista. Do lado tucano se aglutinaram os escritores Marina Colasanti e Affonso Romano de Sant'Anna, o premiado técnico de vôlei Bernadinho e seu antigo parceiro de quadras Giovane Gavio, o ex-atacante Ronaldo Fenômeno, os cantores Flávio Venturini, Zezé de Camargo e Luciano, o ator Luís Fernando Guimarães. Esse apoio maciço de artistas a políticos em campanha não é algo novo. Em 1989, primeira eleição pós-ditadura, o Brasil teve uma disputa com 22 candidatos à Presidência. No segundo turno, houve a polarização entre Luís Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Collor (PRN), que elegeu-se presidente. À época, as atrizes Cláudia Raia, Marília Pêra e Teresa Rachel, a cantora Simoni - ex-Balão Mágico -, declararam apoio a Collor. Lula, por sua vez, foi o escolhido pela maioria dos artistas, como Marieta Severo, Caetano Veloso, Lucélia Santos, Chico Buarque, José Mayer, Cláudia Abreu, Malu Mader, Betty Faria, Aracy Balabanian, Beth Carvalho, Elba Ramalho, Adriana Esteves e Gilberto Gil.Em 1994, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) teve um apoio fundamental na disputa. O candidato do PSDB teve o pernambucano Dominguinhos como cantor do seu jingle. A tática, segundo especialistas, aproximou o tucano do eleitorado do Nordeste e - junto com o Plano Real - levou  FHC ao Palácio do Planalto.Lula obteve o apoio de quase todos os mesmos artistas de 89. Em 2002, primeira eleição vencida pelo petista, uma nova tática foi usada: os showmícios. A nova estratégia era contratar artistas populares e, com grande público, fazer um show, seguido de um comício. Em 2006, no entanto, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibiu a prática. Lula, principal incentivador do formato, perdeu um importante trunfo. Agora, os vips retornaram como militantes.