Janeiro Roxo: Nordeste é região com mais casos de hanseníase no Brasil

  • Nuno Krause
  • 30 Jan 2021
  • 07:44h

(Foto: Divulgação)

Em números absolutos, o Nordeste é a região que possui mais casos de hanseníase no Brasil. Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), 43% dos infectados no país na última década moravam em algum estado nordestino. A Bahia é o quinto estado no ranking do país, com 24.393 registros da doença, enquanto Maranhão, Mato Grosso, Pará e Pernambuco ocupam as quatro primeiras posições.

A hanseníase, antigamente conhecida como "lepra", é causada por uma bactéria que acomete a pele e os nervos periféricos. Entre os sintomas, de acordo com a médica e coordenadora do Departamento de Hanseníase da SBD, Sandra Durães, estão manchas na pele - que podem ser brancas, rosas ou vermelhas -, caroços, áreas vermelhas elevadas, alteração da sensibilidade, dormência, formigamento e diminuição da sensibilidade e/ou da força muscular de pés e mãos. "Além disso, os pacientes podem apresentar perda dos pelos da sobrancelha, sensação de nariz entupido", revela a especialista. 

De acordo com Araci Pontes, assessora do Departamento de Hanseníase da SBD, o fator social e o alto índice populacional do Nordeste são preponderantes para a maior incidência. "A hanseníase tem uma prevalência maior na classes mais desfavorecidas, porque é uma doença que se transmite pelas vias aéreas. Aglomerados de pessoas com condições de moradia não satisfatória, com muitas pessoas morando juntas em condições precárias, favorecem a transmissão da doença. Em termo de número de casos, o Nordeste tem um número grande também porque tem uma população maior. Proporcionalmente, você vê que o segundo estado mais endêmico está no Mato Grosso", afirma. 

O preconceito também vigora entre pacientes da doença, que por vezes demoram para procurar ajuda médica com medo de serem julgados pela sociedade. "As pessoas muitas vezes evitam, têm medo do diagnóstico porque acham que podem ser segregados da família, do trabalho. Ficam escondendo as manchas e não procuram profissional por receio desse estigma. A gente está tentando trabalhar esses conceitos no janeiro roxo", revela. O Janeiro Roxo foi instituído em 2016 pelo Ministério da Saúde, com objetivo de alertar sobre a prevenção da doença. O último dia de janeiro (31) é o Dia Mundial do Combate à Hanseníase. 

Apenas 10% da população mundial é suscetível a desenvolver o problema. Ou seja, 90% pode ter contato com o vírus e não terá nenhum sintoma. Entre esses que podem desenvolver, há dois tipos, explica Sandra Durães. 

"Temos aqueles que apresentam poucas lesões na pele, nos nervos periféricos e pequena carga bacilar e não são contagiosos. Esse pacientes são ditos paucibacilares. Em seu oposto, temos pacientes que apresentam grande carga bacilar. Grande número de lesões cutâneas. O tratamento desses pacientes é diferente. O primeiro tipo precisa tomar antibiótico por seis meses. O segundo, por doze meses", conta. 

Em ambos os casos, o tratamento precoce é fundamental para reverter o quadro. "Após uma semana do início do tratamento, por mais que a pessoa tenha uma quantidade grande de bacilos, ela já não vai mais transmitir. Por isso que não isola mais a pessoa, não está mais transmitindo. Transmitiu antes de ser tratado. Não é preciso esperar o final do tratamento para conviver normalmente", explica Araci Pontes.

A hanseníase dificilmente é fatal, porém pode gerar sequelas eternas, como cegueira, fraqueza nas mãos e nos pés, dificuldade para se locomover e fazer outras atividades comuns do cotidiano. 

Na Bahia, segundo números apurados pela SBD no Sinan/MS, em 2010 os casos novos diagnosticados com algum tipo de deformidade (Grau 2) e com diminuição ou perda da sensibilidade nos olhos, mãos ou pés (Grau 1) representavam 22% do total. Os últimos dados nacionais disponíveis, referentes a 2019, mostram que essa proporção não apresentou melhora, com a manutenção do índice na mesma faixa (22%).

Atrás do Nordeste no número de casos absolutos da hanseníase, estão Centro-Oeste, com 19,5%, seguido do Norte (19%) e Sudeste (15%). Somente 3,5% dos novos pacientes identificados nos últimos dez anos estão no Sul do Brasil.