Bahia: Mulher denuncia racismo após filha ser expulsa de prédio por trançar cabelo

  • G1
  • 14 Nov 2019
  • 16:06h

(Foto: Reprodução)

A mãe de uma adolescente de 17 anos denunciou por racismo o porteiro e o condomínio onde mora com a família, em Pernambués, bairro de Salvador, após a filha dela ter sido abordada e expulsa da área de lazer do prédio porque a jovem trançava o cabelo de um amigo. Em entrevista ao G1 nesta quinta-feira (14), Sandra Moreira disse que já tinha usado as redes sociais para desabafar sobre a abordagem que a filha sofreu, no dia 12 de outubro. De acordo com ela, a menina estava sentada em uma das áreas comuns do prédio onde ocorria uma festa, quando o porteiro chegou abordando com tom agressivo."Ela estava trançando o cabelo do amigo até que o porteiro desceu gritando com ela. Agressivamente com ela. Mandando sair, batendo palma. Dizendo: 'aqui não é salão de beleza. Estou mandando você sair'. Em seguida, ele interfonou para minha casa dizendo: 'Dona Sandra, eu estou tendo problemas com sua filha. Ela está incomodando os moradores'. Eu então questionei: "O que ela está fazendo de errado?", disse.Horas depois, ainda segundo Sandra, o síndico também ligou para o apartamento da família. Nesse momento ficou decidido entre os dois que a adolescente iria para um outro local, a poucos metros de onde estava inicialmente. Mas houve uma segunda abordagem do porteiro."Ele [síndico] ligou pedindo para eu colocasse ela em outro lugar. Então eu mandei ela ficar embaixo, na área verde. Ela estava ouvindo muitas piadinhas. Uma moradora mandou que ela se retirasse do local também. Teve uma senhora que mandou ela pegar a cadeira para ela, dizendo que ela tinha que pegar. Eles não disseram nada antes. Já chegaram dizendo que minha filha estava incomodando. Mandaram que ela desligasse as luzes e tirasse as cadeiras. E ainda disseram que ela estava proibida de ficar ali embaixo", contou. "Ela sempre ficava ali embaixo. Já trançou o cabelo outras vezes, no mesmo local. Mas era durante a semana. Nunca teve nada. Ninguém proibiu ela de fazer. Por que justamente naquele dia? Só tinha ela de negra e mais dois amigos negros. E as pessoas que estavam aqui embaixo eram todas brancas. Qual o motivo de tirar minha filha do lugar se ela e moradora como outros?", questionou. A mulher disse ainda que se sente impotente diante da situação e que vai se mudar do condomínio, pois a filha passou a não se sentir bem no local. "Eu me sinto impotente. Muito triste. Nos dias de hoje a gente tem que conviver com esse tipo de ação. A minha filha teve que ir para o hospital, ficou três dias sem ir ao colégio, depois passou mal novamente. Começou a chorar dentro da minha casa. Ela não quer ficar aqui, de forma nenhuma. Vou me mudar por causa dela. Ela não se sente bem, não quer permanecer aqui. Não vou forçar minha filha a passar por isso. Não vou me calar", afirmou. Um mês após o caso, a adolescente conta que já não frequenta mais os espaços de lazer e que tem vivido com muita angústia. "Eu não entendo essa situação. Difícil. Tenho preferido ficar em casa. Já não descia muito, agora que eu realmente não desço mais. Eu não me sinto à vontade. Não quero nada, nada daqui. Já não gostava, agora pior. É um sentimento de angústia, de tristeza, raiva. É ruim. É horrível", pontuou a adolescente. O caso foi registrado na Delegacia Especializada de Repressão a Crime contra Criança e Adolescente (Dercca), no mês de outubro. Segundo a advogada da família, as investigações estão em andamento e ainda não há previsão para a conclusão do inquérito. O G1 procurou a administração do condomínio, mas até a última atualização desta reportagem, ninguém se manifestou sobre o caso.