Diário de uma Doutora: A Advocacia Ostentação

  • NED
  • 21 Ago 2014
  • 09:46h

(Imagem Ilustrativa)

Que o ser humano sempre foi meio exibido, todos nós sabemos. O problema é que agora dispomos de vários meios para que as pessoas demonstrem isso de maneira mais eficaz. Estão aí as redes sociais que não me deixam mentir. Se antes um xarope era exibido para um pequeno nicho de pobres coitados que o suportavam, agora o número de atingidos é ampliado. E, muitas vezes, a chatice surge na sua linha do tempo, sem que você procure por ela.

Que o ser humano sempre foi meio exibido, todos nós sabemos. O problema é que agora dispomos de vários meios para que as pessoas demonstrem isso de maneira mais eficaz. Estão aí as redes sociais que não me deixam mentir. Se antes um xarope era exibido para um pequeno nicho de pobres coitados que o suportavam, agora o número de atingidos é ampliado. E, muitas vezes, a chatice surge na sua linha do tempo, sem que você procure por ela.


O mundo está cada vez mais chato. As pessoas estão cada vez mais chatas (eu não me excluo... também tenho as minhas chatices). E os ostentadores estão cada vez mais chatos. Há quem ostente de tudo o que se possa imaginar. Desde o que comem, quem comem, pra onde viajam, o que compram, quem amam, etc. Havendo uma pessoa exibida e uma plateia virtual, está formado o circo. O que acontece é que aquele que ostenta não percebe que acaba sendo o palhaço desse circo e a plateia, virtual que é, não mostra pro “palhacildo” que ele está sendo motivo de deboche e comentários do tipo: “você viu Fulano ostentando no Facebook?” acabam surgindo.


E o que significa “ostentar”? De acordo com o dicionário Michaelis, temos como definição: “fazer ostentação; mostrar-se com alarde e vanglória (...) exibir, mostrar com legítimo orgulho”. Diferentemente de alguém que está feliz com algo e posta um comentário ou uma foto porque quer que os amigos saibam de determinado acontecimento, o ostentador se vangloria de algo e tem como objetivo causar a inveja daqueles que estão em condição “inferior”. Para quem ostenta, o maior prazer não é conseguir determinada coisa, é mostrar para os outros que conseguiu. E faz até sentido, já que vivemos em uma sociedade que valoriza o TER em detrimento do SER.


E, logicamente, a Advocacia não estaria a salvo dos ostentadores, não é mesmo? O que tem de advogado que se acha o furo do bolo, o último real do saldo bancário, o Ruy Barbosa reencarnado, não está escrito. Desde gente que posta frases como: “ganhei aquela ação... eu sou um ótimo advogado”, até aqueles que fazem check-in em todos os fóruns por onde passam. Para quê? Para mostrar que são ocupadíssimos e que têm muitas causas espalhadas por aí. Que necessidade é essa, gente? É “merchan”? Você quer usar as redes sociais para conseguir mais clientes?


Outro dia, numa rede social, uma colega de profissão postou: “liminar pedida, liminar concedida... se sentindo inteligente”. Fiota, se o seu cliente tiver o direito e você apontar o “fumus boni iuris” e o “periculum in mora” para o juiz, a liminar será dada. Gabar-se disso é ridículo. Ostentar o fato de ter ganhado a ação também é tosco. Alguém tinha de perder. Todos os dias, milhares de pessoas ganham e perdem ações. Um dia você ganha, no outro você perde. Fica na sua.


Legal também é sentar um dia na sala da OAB do fórum e observar os egos inflados. Advogados se vangloriando de honorários, aquisições materiais e vitórias judiciais em voz alta. Sabe o que eu concluo? Que tem um monte de otário com capacidade postulatória. E o famigerado adesivo no carro da OAB?  Ele tem a mensagem subliminar de: “sou advogado, esse carro é meu, eu sou foda, me procure.”


E aquele tipo de advogado que fica “defecando regras”? Tentando mostrar erudição e conhecimento? Querido, você é um privilegiado por ter estudado e ter conseguido a carteira da OAB. Vivemos num país que sempre deixou a Educação em último plano. E, olha, não é porque você chegou aonde chegou que você é grandes coisas não, viu? Tem gente muito mais capacitada que você. Conheço excelentes advogados que são humildes, simples e acessíveis. Eu, advogada nova que sou, muitas vezes peço aconselhamentos e orientações. Esses caras ganham dinheiro pra caramba, são discretíssimos no ambiente forense e nunca vi nenhum deles ostentando coisa nenhuma.


Sabe só o que está faltando? Advogado postar selfie em audiência com hashtags: #NaAudiência #EssaTáGanha #PauNaParteContrária #JuizParça #GanhoTodas #ContandoUnsPlaquêDeCem #AçãoPropostaAçãoVencida.