Discutir o financiamento das universidades públicas é um mal necessário

  • por Fernando Duarte
  • 22 Mai 2019
  • 13:39h

(Foto: Brumado Urgente Conteúdo)

A discussão sobre o financiamento das universidades públicas é urgente. Não apenas por conta dos recentes contingenciamentos vividos pelas instituições federais, determinados pelo governo Jair Bolsonaro. Há muito tempo se posterga no Brasil um debate sério sobre outras formas de financiamento das universidades, tal qual acontecem em outros países no mundo. E quando alguém com voz fala sobre o tema, como aconteceu com o governador Rui Costa ao defender que se discuta a cobrança de mensalidade a depender da faixa de renda, é alvo de críticas. Não é novidade que uma parcela da esquerda brasileira vive em um mundo de fantasia. Tanto que essa parcela contribuiu de maneira incisiva – ainda que indireta – para que o conservadorismo extremo tomasse corpo e chegasse ao Palácio do Planalto. Porém sugerir que o debate sobre financiamento das universidades públicas é o mesmo que privatizá-las chega a ser um insulto à inteligência alheia. É um erro achar que cabe ao Estado brasileiro bancar as benesses da elite apenas sob a ótica de que a universidade pública deve ser universal. São duas coisas distintas, mas jogadas em um mesmo bolo.

O governador baiano sabia que sua fala seria polêmica. Tanto que hesitou quando foi questionado em um primeiro momento sobre outras formas de financiamento. Dando um contexto prévio, Rui falou inicialmente sobre a necessidade de uma maior participação da sociedade civil nos conselhos deliberativos das universidades. Sob a justificativa da autonomia universitária, instituições de ensino decidem gastos sem a fiscalização de quem banca seus custos. O exemplo dado pelo governador surgiu de uma universidade que decidiu dobrar gastos com segurança e ninguém pode questionar o poder discricionário do reitor. Não havia nada de ilegal, porém o valor na rubrica segurança poderia ter tido outro direcionamento. Outro ponto abordado por Rui foi o financiamento privado do desenvolvimento de pesquisas pelas universidades. Ele trouxe o exemplo de um túnel de vento da Universidade de Madrid, contratado por construtoras e empresas de design para verificar a viabilidade de seus projetos. De acordo com o governador, a instituição espanhola, mesmo pública, ganha milhões a partir desse equipamento. Tente fazer algo similar por essas bandas. À época em que estudava na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia sobraram críticas a um professor que conseguiu um laboratório para estudar o mercado online por meio de uma parceria com uma agência de publicidade. Por fim, após uma provocação de um repórter, Rui falou o que muita gente pensa: enquanto abastados que gastam rios de dinheiro no ensino básico por causa do sucateamento da educação pública entram nas universidades sem pagar nada, quem deveria ter acesso gratuito ao ensino superior acaba fora por causa do mesmo sucateamento da educação pública. É o círculo vicioso que o sistema de cotas propõe diminuir. Rui pode até se afastar mais das bandeiras do PT quando assume posições assim. No entanto, ao se aproximar de uma posição mais central, o governador baiano consegue transitar bem por campos até então desconhecidos por correligionários. É estratégico. Mas também é uma voz importante para puxar um debate relevante como o financiamento das universidades públicas. Basta saber até que ponto vão deixar ele falar.