O perfil da mãe que mata e o Mito de Medeia

  • Por Deborah Bresser | R7
  • 02 Ago 2014
  • 10:22h

(Imagem Ilustrativa)

Autora da tese de Direito Penal “Pais homicidas e inimputabilidade: um estudo transdisciplinar” (publicada em 2009), a dra. Fabíola Dornelles aponta, em sua pesquisa, que as mulheres que praticam o filicídio geralmente são jovens, acometidas de algum transtorno mental, e optam por matar filhos mais velhos. A justificativa de doença do filho ou o temor de que algo pior acontecesse a ele também se mostram recorrentes. Gravidezes frequentes e alguns sintomas autopunitivos também são comuns. 

Autora da tese de Direito Penal “Pais homicidas e inimputabilidade: um estudo transdisciplinar” (publicada em 2009), a dra. Fabíola Dornelles aponta, em sua pesquisa, que as mulheres que praticam o filicídio geralmente são jovens, acometidas de algum transtorno mental, e optam por matar filhos mais velhos. A justificativa de doença do filho ou o temor de que algo pior acontecesse a ele também se mostram recorrentes. Gravidezes frequentes e alguns sintomas autopunitivos também são comuns.

Não se percebe, geralmente, indício de arrependimento pelo ato. A reiteração de golpes e o uso de instrumentos contundentes, como faca, também chamam a atenção ao fato de que a violência extrema pode ser dita como recorrente.

Determinados fatores não podem ser desprezados: o histórico de violência familiar na infância ou na vida conjugal, bem como o abandono e o baixo grau de instrução desses pais filicidas. Nos casos que ganharam as manchetes esta semana — o assassinato das crianças Keven Gomes Sobral, de 2 anos, encontrado morto dentro de um sofá e Maria Clara Zortea Ramalho, de 7 anos, espancada, colocada ainda com vida no porta-malas de um carro, enterrada em um matagal — não se encontram traços do chamado “Complexo de Medeia”, mães que matam para se vingar dos companheiros.

Mas é uma característica normalmente encontrada nos casos de filicídio. O mito grego de Medeia é talvez um dos mais terríveis e assustadores. A trágica história da mãe infanticida que apunhala os próprios filhos para vingar um amor malsucedido costuma se repetir na vida real.Narra a lenda que Medeia, depois de se apaixonar por Jasão, resolve entregar-lhe o precioso velocino dourado – um carneiro encantado que  produzia infinitamente uma magnífica lã de ouro.

Para esta empreitada, Medeia revela ao amado as artimanhas e mágicas para conseguir tal feito, sendo que uma delas era matar o dragão que zelava pelo carneiro. De posse deste precioso animal, depois de alguns anos, Jasão esquece Medeia e se apaixona por Creusa, a filha do rei Creonte. Traída e inconformada, Medeia jura vingança e cumpre: mata Creusa e depois os próprios filhos que tivera com Jasão.


Em seu artigo “O Mito de Medeia: quando os pais matam seus filhos”, Vanessa Fabiane Machado Gomes Marsden, mestre em Psiquiatria e Saúde Mental pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, em Portugal, esclarece que homens e mulheres tendem a matar seus filhos por razões bastante diferentes: homens são geralmente associados a retaliação, disciplina ou rejeição por parte da vítima. As mulheres, por outro lado, matam pois o filho não era desejado (tipicamente neonaticídio, cuja mãe escondeu a gravidez);  porque o assassinato foi percebido como melhor escolha para criança (filicídio altruísta); ou porque a mãe estava em estado psicótico no momento do crime.