Nem com liberação ‘polícia vai conseguir exterminar tráfico de maconha', diz major

  • 05 Abr 2018
  • 18:00h

Foto: Divulgação / Cipe-Chapada

Entre a divisa da Bahia com o Pernambuco, cerca de 13 cidades formam uma região de numerosas plantações de cannabis. Nessa região, que foi batizada de Polígono da Maconha, o major Ricardo Passos, comandante do Comando de Policiamento Especializado (Cipe-Chapada), parece ter se conformado ao dizer que é impossível erradicar a droga. Mesmo com a legalização, que segundo teoria do secretário de Segurança Pública do Estado (SSP-BA), Maurício Barbosa, quebraria 80% das quadrilhas baianas (leia aqui), o plantio da droga persistiria em regiões mais pobres do norte do estado que formam o Polígono. “Eu não procuro fantasiar. Controlamos a situação, mas nunca nenhuma polícia vai conseguir exterminar totalmente o plantio de maconha”, declarou Passos. De acordo com o policial militar que já atuou na região do polígono, no município de Curaçá, o plantio legalizado se apresenta como uma fonte de renda para as pessoas da região carente. “Em áreas miseráveis como Curaçá, em que mulheres se prostituem por R$ 15, os traficantes cooptam os pequenos agricultores para que eles façam o plantio”, contou o major. “E existem áreas imensas para isso. Campos de até 300km sem nenhuma habitação”, continua. Quando a PM chega aos plantios e parece que tudo chegará ao fim, uma situação curiosa se sucede. Sem mão de obra para arrancar os pés, a polícia pede ajuda dos agricultores que fizeram a plantação para exterminar o cultivo. “Quem ganhava dinheiro do tráfico para plantar, era contratado pela polícia também para tirar os pés”, levantou a contradição, o major. O comandante não acredita que a liberação do plantio também pode resolver a situação. “Mesmo com a liberação, há o comércio clandestino. A droga legalizada nunca chegaria a todos os lugares. O maior exemplo é o contrabando, na Bahia, de cigarros paraguaios”, explana Ricardo Passos. O consumo generalizado é outro limitador para a extinção da maconha. Antes visto só como “coisa de preto e pobre da periferia”, o major contou ao Bahia Notícias que outras classes econômicas também se tornaram consumidoras da substância no estado. “No primeiro dia da Cipe em Ruy Barbosa demos um flagrante na cidade em duas pessoas: uma da área pública e um funcionário da Embasa”, comentou o major.