Ex-ministro da Justiça, Cardozo clama por discussão sobre a liberação de drogas

  • 26 Mar 2017
  • 12:04h

(Foto: Reprodução)

Em uma palestra em que criticou a "cultura do encarceramento" e apontou problemas do sistema prisional nacional, o ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo afirmou que o país precisa "caminhar para a ideia da liberação das drogas". "Eu tenho uma visão pessoal de que nós temos que caminhar, sim, para a ideia da liberação das drogas, mas dentro daquilo que a cultura do povo admite, com muita transparência, com muita discussão, sem dogmas e sem preconceitos", afirmou o ex-ministro em um debate no Centro Universitário de Brasília nesta sexta-feira (24). Em sua opinião, é preciso de estudos e de análise de experiências de outros países, como o Uruguai, que legalizou a maconha. "Não é baixar um decreto. Nós temos que discutir", disse o ministro. Uma das justificativas do ex-ministro é a de que a "guerra às drogas" falhou. Essa expressão é utilizada para se referir às ações tomadas pelo Estado para reprimir completamente o uso e a circulação de drogas. Ele aponta que um dos resultados dessa política é o aumento incontrolável da quantidade de presos. Em outra frente, aponta que a proibição às drogas alimenta o narcotráfico. "Nós vamos continuar de uma forma estúpida não refletindo?", indagou o advogado. 

Cardozo nunca defendeu essa discussão nos cinco anos em que foi ministro da Justiça sob a presidência de Dilma Rousseff (PT), entre 2011 e 2016. A explicação que deu é que "o ministro fala em nome do Estado, e há que ter cuidado quando se fala em nome de Estado". Relacionando a crise carcerária e a questão das drogas, o ex-ministro criticou a falta de clareza na distinção entre o usuário e traficante, apontando que este é um dos motivos para o encarceramento em massa. "Não há um limite muito claro para ver qual é a quantidade que alguém deve portar que pode servir como indicador para a definição se ele é traficante ou usuário. Alguns países têm essa referência. Nós não temos no Brasil", disse. Como resultado, segundo ele, "os operadores do direito forçam a barra para colocar atrás das grades usuários dizendo que são traficantes". Entre o alto número de presos e o déficit de vagas, o ex-ministro afirma que não há como o orçamento viabilizar a construção de vagas a tal ponto que englobe a demanda atual. É preciso prender menos, segundo ele. "Usuário de drogas não se sanciona. Ele tem que ser tratado pela saúde pública. O usuário de drogas é dependente e tem que ser tratado por médico, tem que ter reinserção social, e não é atrás das grades que vai ter nem médico nem ter reinserção social. Então essa cultura do aprisionamento, que também se projeta pelo tráfico de drogas quando a pessoa é usuária, é alarmante", disse, destacando que a situação é grave entre a população feminina e que grandes traficantes não são aprisionados. Afirmando que o custo médio de um preso é "alarmante", Cardozo disse que "é melhor colocar um preso e por numa escola na Suíça do que deixar num presídio brasileiro". "Qual é a lógica de continuarmos colocando no presídio pessoas que não precisam ser presas e colocando presos provisórios como forma de aplacar a ira social, não percebendo a consequência para a própria sociedade desse aprisionamento provisório?", finaliza.