Artistas homenageiam a mistura de ritmos da música baiana

  • 26 Set 2015
  • 10:24h

Mateus Aleluia canta Oração de Mãe Menininha, de Caymmi, e faz referência à matriz africana

Os ritmos africanos no século XIX; as mães de santo baianas que fizeram das suas casas no Rio de Janeiro o berço dos primeiros sambas gravados; e, mais tarde, a bossa nova de João Gilberto, o Tropicalismo e a mistura, incorporada pelos Novos Baianos e Raul Seixas, fizeram da Bahia difusora de movimentos que configuraram a música brasileira. Esse histórico que, ao longo dos anos, gerou pesquisas, debates e fincou de vez a raiz baiana na musicalidade brasileira, é homenageado no programa   Bahia - Do Samba Chula ao Samba Reggae, que será veiculado pela TV Bahia e emissoras afiliadas, neste sábado, 26, às 14 horas. Com cerca de 50 minutos e apresentado pela atriz Cyria Coentro, o programa é resultado de ideia de Sérgio Siqueira, que, ao lado do diretor artístico, Ricardo Bittencourt, coordenou o projeto. "Já vinha pensando nesse especial de música e quando surgiu a oportunidade convidamos  14 artistas baianos, escolhidos por nós, e discutimos o repertório. Cada um fez da sua forma, sem banda base ou arranjador fixo, preservando as particularidades", revela Siqueira.

 

O centro é a canção

Acima de tudo, o projeto é uma homenagem ao cancioneiro brasileiro e aos ritmos de matriz africana, que estão associados diretamente à Bahia. E, apresentando o samba como epígrafe e divisor temporal, não poderia ser diferente, afinal, foi essa combinação que deu base ao gênero. Nas palavras de Mateus Aleluia, cantor, compositor e ex-integrante do Os Tincoãs, que abre o programa com versão emocionante de Oração de Mãe Menininha (Dorival Caymmi), "a música brasileira é baseada nos ritmos que saem dos terreiros, nas suas formas sincopadas e dessincopadas. E nessa temática a Bahia traz uma novidade sem sair do tema, pois a canção tem perfil baiano".

Repertório diverso

Logo no início, Armandinho executa Atrás do Trio Elétrico (Caetano Veloso) e Chame Gente (Moraes Moreira e Armandinho) e a  guitarra assume o lugar da voz e  revela alguns dos primeiros versos cantados em trio elétrico. Entre interpretações menos  singulares, mas que não perdem a relevância, como a de Saulo Fernandes, Mistério do Planeta, dos Novos Baianos, e de Will Carvalho, Gita, de Raul Seixas, ocorre um dos momentos mais interessantes: a inovadora e cheia de personalidade versão distorcida de Não Identificado, de Caetano, cantada por Rebeca Matta e acompanhada dos riffs da guitarra de Juninho Costa e a eletrônica de Andrea May. Rebeca conta que tem uma relação íntima com a música, que faz parte do repertório do  trabalho com os artistas que a acompanham. "A Tropicália é uma influência e já fazia Não Identificado com Junix e Andrea. Ela é uma música doce, que fala de amor e também tem relação com o sonho". A devida homenagem ao samba reggae é feita por Lucas Santtana em uma tríade em sequência -  Faraó (Luciano Gomes), A Terra Tremeu (Sacramento Pereira) e Brilho de Beleza (Nego Tenda). Heterodoxas, sem percussão, apenas com guitarras retas que gradualmente ganham pitadas de suingue, as versões possuem fortes marcas autorais. Encerrando pelo começo no Recôncavo Baiano, Roberto Mendes canta Só Se Vê na Bahia, feita em parceria com Jorge Portugal, e uma chula em forma de xaréu, Adeus Adeus (Boa Viagem). Para o artista santoamarense, o samba chula compõe a nascente musical brasileira, que "vem do canto do labor, da cadência do tambor e da harmonia da viola percussiva. E se canta como se fala".


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