Bahia tem aumento de 147% no registro de crimes cibernéticos durante a pandemia

  • Redação
  • 30 Abr 2021
  • 14:56h

Foto: Reprodução / UOL

A Bahia teve um aumento de aproximadamente 147% na quantidade de crimes cibernéticos registrados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) nos últimos 12 meses. O crescimento de ocorrências foi ainda mais significativo em Salvador, onde os números subiram cerca de 366% desde março de 2020.

Conforme dados obtidos pelo Bahia Notícias, o estado registrou, entre 1º de março de 2020 e 31 de março de 2021, um total de 452 crimes realizados através da rede mundial de computadores, sendo 149 em Salvador e 303 no interior baiano.

Nos 13 meses anteriores a esse período, quando ainda não havia pandemia do novo coronavírus, a SSP-BA contabilizou apenas 183 crimes cibernéticos, sendo 32 em Salvador e 151 no interior do estado.

Na consulta realizada pelo BN à SSP-BA, considerou-se como crime cibernético todo e qualquer delito cometido através da internet, podendo ser extorsão, estelionato, furto, abuso sexual de menores e outros.

Segundo o advogado Thiago Vieira, especialista em direito cibernético, os números reais são muito maiores do que os registrados pelo governo. “Não sei qual a metodologia que a SSP utilizou para gerar esses números, mas ela certamente não reflete a realidade quantitativa”, disse.

Para o especialista, a maior parte das ocorrências acaba não sendo registrada em delegacias e, mesmo quando há a denúncia, o estado não dispõe de uma metodologia para classificar esses crimes.

“Não reflete a realidade por vários motivos. Primeiro, há em todos os tipos de crimes uma zona cinzenta, em que eles simplesmente não são reportados em delegacias. Furtos, roubos, etc.”, avaliou Thiago, em entrevista ao BN.

“Mas, para além disso, estou certo que não temos, no momento do registro da ocorrência, uma metodologia para classificar os crimes cometidos através de dispositivos informativos ou da internet. Um furto mediante fraude ou estelionato praticado pela internet vai ser tabulado sem essa distinção”, afirmou o advogado.

Por outro lado, Thiago Vieira acredita que os números da SSP-BA acertam ao apontar um aumento do volume de crimes desse tipo durante a pandemia da Covid-19.

“Com a intensificação da vida on-line, impulsionada pela pandemia, é de se esperar que os crimes também aumentem. Émile Durkheim disse com muita propriedade: onde há sociedade, há crime. E na internet não seria diferente. Quem não conhece um amigo que teve o WhatsApp clonado em 2020 ou 2021? Eu diria que foi uma pandemia de golpes”, analisou o especialista.

Neste ano, a vereadora Maria Marighella (PT) e o deputado federal Marcelo Nilo (PSB) tiveram seus cadastros no WhatsApp clonados. No ano passado, o senador Jaques Wagner (PT) viveu tal situação por duas vezes. 

Além da “clonagem” de WhatsApp, o advogado citou o sequestro de dados através de “ransomware” como outra ocorrência com grande frequência durante a pandemia. Os golpistas estão usando um malware que criptografa dados, para depois exigir dinheiro para o resgate das informações.

PREVENÇÃO

Perguntado pelo BN sobre como prevenir esse tipo de golpe, Thiago Vieira explicou as modalidades que são mais comuns, dando dicas de prevenção para cada um dos casos.

 “São muitas as modalidades. Na primeira, o criminoso solicita o código de autenticação do WhatsApp se passando por outra empresa. Se a vítima informar, o criminoso tem acesso ao WhatsApp. Mesma tática utilizada pelos hackers da Vaza Jato", explicou o advogado.

"Na segunda, o que há é um vazamento de informações de contato. O golpe é financeiro. Clona-se para enganar terceiros. O vazamento de dados é o meio. Você pode ser extremamente cauteloso com os seus dados. Mas, se vaza a agenda de sua mãe, e tem lá seu contato como filho, você pode ser induzido a transferir valores para um terceiro para ajudar sua mãe”, continuou.

 “Na primeira hipótese, [é preciso] não informar os dados de SMS do WhatsApp para terceiros. Leia a SMS integralmente. Lá diz qual é a empresa que está mandando. E habilite a autenticação por dois fatores”, sugeriu.

 Na segunda, é nunca transferir valores para contas de pessoas sem confirmar por chamada de voz ou de vídeo que é seu familiar ou amigo quem está pedindo dinheiro”, finalizou Vieira.


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