Feira mais barata: preços de alimentos têm queda de até 80%

  • Correio 24h
  • 24 Jun 2019
  • 13:15h

(Foto: Brumado Urgente Conteúdo)

Quem pegar a estrada da roça neste mês de junho, basta dar uma espiada nas plantações, ao longo do caminho, para perceber que as chuvas recentes causaram efeitos na paisagem. Apesar de muitos municípios ainda estarem em situação de emergência por causa da estiagem, os dados meteorológicos mostram que choveu acima da média esperada em muitas regiões do estado.  A maioria das pastagens está com mais capim para o gado, e os pomares e hortas exibem mais verduras, legumes e frutas. As consequências não são apenas visuais. A fartura de água nos campos já provoca reflexos nos preços dos alimentos que chegam na mesa do consumidor na capital baiana. A queda nos valores é marcante. Varia de 20% a até 80%. 

O CORREIO foi a feira, pesquisou, e listou os dez alimentos que mais caíram de preços nas últimas semanas sob a influência das chuvas. Os percentuais foram calculados com base nos preços médios encontrados na Feira de São Joaquim, Ceasa do Ogunjá e na Ceasa de Simões Filho:

Banana nanica ou da prata (-22%): Com a safra sendo colhida em polos como Bom Jesus da Lapa, e a chegada de remessas também de outros estados, como Minas Gerais, os preços das bananas, nanica e da prata, caíram cerca de 22% nas últimas semanas. Nas Centrais de Abastecimento a caixa com até 44 quilos pode ser encontrada por cerca de R$ 70, antes custava R$ 90.

Tangerina (-26,5%): A queda no preço da tangerina já é de 26,5%. A caixa com 25 quilos que chegou a custar R$ 35, agora pode ser encontrada por R$ 25. A redução no preço foi influenciada pelo aumento na produção de Inhambupe, Santo Antônio de Jesus e municípios do recôncavo. Nas feiras de Salvador o quilo custa em média R$ 3 reais.

Mandioca (-30%): Apesar da alta procura nesta época do ano, os derivados de mandioca, como a farinha de carimã, registraram queda média de 30% nas feiras da capital baiana. Graças aos bons ventos que chegaram nas principais regiões produtoras, como Entre Rios, Laje e no recôncavo baiano. A tendência de queda deve continuar nos próximos meses. Este ano, a safra de mandioca da Bahia tem estimativa de crescimento de 21,6% em relação ao ano passado. A saca do aipim, tipo de mandioca mansa, com 30 quilos, caiu de R$ 50 para R$ 30.

Chuchu (-33,6%): Considerado um cultivo de ciclo curto, com tempo máximo de produção de cem dias, o chuchu respondeu bem as chuvas recentes que caíram em várias regiões produtoras. O quilo da hortaliça está chegando nas feiras de Salvador por R$ 3. A caixa que custava R$ 30 nas centrais de abastecimento, caiu par R$ 20 reais.

Pepino (-43%): Também cultivo de ciclo curto, o preço do pepino está 43% mais barato. Na Ceasa de Simões Filho, a caixa com até 22 quilos pode ser encontrada por R$ 20, cerca de 10 reais a menos que em abril. Nas feiras o quilo é vendido por R$ 2.

Maracujá (-48%): Produzido em várias áreas da Bahia, principalmente no Baixo Sul e no Vale do Jiquiriça, onde as chuvas têm sido generosas, o preço do maracujá caiu cerca de 48% nas últimas semanas. A caixa pode ser encontrada agora por até R$ 18, no mês de abril chegou a custar R$ 35. O quilo sai em média por R$ 3,50.

Cebola (-50%): A produção de cebola está em alta na região de Irecê, em municípios como América Dourada e João Dourado. Com o início da colheita, o preço já caiu até 50% nas feiras da capital. O saco de 20 quilos que atingiu R$ 60 em abril, agora pode ser encontrado até por R$ 30.

Laranja (-50%): Com a colheita começando a ficar intensa no recôncavo, no nordeste do estado e no Vale do Jiquiriça, o preço da laranja vem registrando queda de até 50% na capital baiana. A caixa de 24 quilos, ou 110 laranjas, caiu de R$ 50 para R$ 25. Mas a redução não deve demorar muito. Os pomares continuam sofrendo com o ataque de pragas e prejudicando o desenvolvimento das frutas, assim como os estoques. "Tem poucas frutas disponíveis. Tem plantações que tem mil laranjas no pé, mas não se salva nem metade. Estão com as cascas manchadas e a gente até lava antes de mostrar para o consumidor", afirma o vendedor Antônio José Santos, que comercializa laranja pêra cultivada em Cruz das Almas.  

Hortaliças (-50%): Elas chegaram a custar os olhos da cara no início do ano, mas agora estão até 50% mais baratas. O plantio de ciclo curto, com fase completa entre 30 e 40 dias, permitiu que os agricultores começassem a recuperar as hortas. O coentro que chegou a custar R$ 15 na Feira de São Joaquim, agora pode ser encontrado por até R$ 10. 

Milho (-80%): Cultivado em várias partes do estado, onde a chuva atuou com força, o milho registra safra abundante. O preço do milho em espiga registrou queda de até 80% este ano, comparado com junho de 2018. A unidade chegou a ser vendida por até 30 centavos nas feiras livres de Salvador. Já o milho commodity, produzido em escala principalmente para as indústrias, tem estimativa de queda de preços de até 3,55% na cotação de junho.

Na Ceasa do Ogunjá, os comerciantes que chegaram a diminuir o tamanho do moio, para não repassar o aumento para os consumidores (como o CORREIO mostrou no mês de abril), agora voltaram a aumentar a quantidade ofertada, mantendo o mesmo preço. 

“As hortaliças voltaram a chegar mais baratas para gente, e voltamos a oferecer maços maiores. Está tudo mais em conta. A cebolinha, o coentro, a salsa e o hortelã”, afirma o comerciante Luiz Vaz Ribeiro. Mas o consumidor não deve se empolgar muito.

"As hortaliças são os únicos produtos que a gente não consegue controlar. Não tem tabela, não tem preço fixo e basta chover mais, ou menos, que os preços viram rapidamente”, pontua Osvaldo de Souza, feirante há mais de 50 anos na Feira de São Joaquim.

 

OSCILANDO OU EM ALTA

Apesar das chuvas, alguns alimentos devem continuar oscilando ou com tendência de alta:  

Tomate: Os preços apresentaram leve queda em junho, mas o tomate continua sendo considerado um dos principais vilões da cesta básica na capital baiana. A caixa com 22 quilos do tomate varia de R$ 90 a R$ 120 reais, a depender da qualidade e do destino, se de mesa ou para processamento. Mas as lavouras estão em andamento e devem gerar uma produção 19,5% maior este ano, segundo o IBGE. Enquanto as próximas safras não chegam as prateleiras, a tendência é que o preço continue oscilando, sem previsão de grandes reduções.

Goiaba: O preço da fruta praticamente dobrou. A caixa subiu de R$ 40 para R$ 80 na Ceasa de Simões Filho. Mas não foi por falta de frutos nos pés. É que muitos agricultores estão enviando as safras para outros estados, para atender mercados que oferecem preços mais vantajosos, como Sergipe, Ceará e Pernambuco. O quilo está custando em média R$ 3,30. "Ao contrário do que estava ocorrendo faz alguns meses, nós não estamos encontrando com tanta facilidade estas frutas, também devido ao período de entressafra em algumas regiões, principalmente em Juazeiro. Fica difícil não repassar para o consumidor", justifica a vendedora Lívia Bispo dos Santos, feirante há 20 anos na Feira de São Joaquim. 

Banana da terra: A fruta continua em alta, com o quilo custando R$ 3,70 nos principais pontos de venda de Salvador. A situação deve permanecer até o meio do segundo semestre, quando começará a ser colhida a maior parte da safra dos municípios do Baixo Sul, principalmente Teolândia. 

 

MAIS ÁGUA NO FEIJÃO

As chuvas estão beneficiando as lavouras de feijão, e as plantações estão em plena evolução, mas os preços do grão ainda continuam altos por causa da escassez de produtos no mercado. 

Neste período de entressafra, a saca do feijão em Euclides da Cunha está custando entre R$ 170 e R$ 210. Com o quilo sendo vendido por até R$ 9. 

Mas há luz no fim do túnel. De acordo com o último levantamento divulgado pelo IBGE, com as bênçãos dos céus, a safra de feijão da Bahia deve ser 478,5% maior do que no ano passado. Em 2018 os agricultores só conseguiram produzir 25,7 mil toneladas do grão. Este ano, as projeções indicam que a produção total deve ultrapassar 148,8 mil toneladas de feijão.

Depois da colheita, a probabilidade é de queda considerável nos preços. Entretanto é preciso ter paciência. A safra em andamento só deve começar a ser colhida um mês depois do período normal, por que as chuvas vieram tardias e os plantios também atrasaram.

“A colheita geralmente começa em agosto, mas como as chuvas demoraram para chegar, e houve atraso nas plantas, a colheita também só deve acontecer forte na segunda quinzena de setembro. Além disso, a área plantada diminuiu, então a produção não será tão volumosa”, afirma João Carlos Rodrigues Filho, produtor rural em Euclides da Cunha.

Clima

Mas até que ponto as condições climáticas vão influenciar na produção de alimentos na Bahia este ano? De acordo com Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os satélites estão indicando uma probabilidade superior a 50% de manutenção do El Niño durante o inverno. O fenômeno deve manter as águas do Oceano Pacífico aquecidas até setembro, quando começar a primavera. 

Mas, desta vez, os meteorologistas alertam que o El Nino deve atuar de forma moderada no Nordeste.“Ele terá fraca intensidade, já está em fase de dispersão, e terá pouca influência nesta região. De uma forma geral, do ponto de vista agrícola, as condições são bem favoráveis principalmente na faixa leste da Bahia”, afirma o meteorologista Heráclio Alves. 

No Oeste, onde fica o principal polo agrícola do estado, o fenômeno deve acentuar o período seco, com índices baixos de pluviosidade. Mas nada que preocupe os agricultores. As safras de soja e milho acabaram de ser colhidas, e a produção de algodão já está praticamente garantida, conforme o esperado. Já nas outras partes do estado, a previsão é que as temperaturas permaneçam dentro da média. 

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