'Não quero ser o único', diz primeira pessoa do mundo curada do HIV

  • Folha de S. Paulo
  • 15 Abr 2019
  • 10:07h

Há 12 anos ele se tornou o “paciente de Berlim”, a primeira pessoa do mundo curada do vírus HIV após passar por um transplante de medula óssea para tratar de uma leucemia. As células vieram de um doador que possuía um gene hereditário pouco comum, associado à redução do risco de contrair o HIV. Em 2010, o americano Timothy Ray Brown, 53, revelou sua identidade ao mundo e desde então se tornou um ativista da causa, não só doando suas células para pesquisas clínicas como também se dedicando a ajudar grupos de pacientes que vivem com HIV e de pessoas que perderam entes queridos para a Aids. Ele conta que, às vezes, ainda se sente culpado. “Não só sobrevivi ao HIV como estou curado, enquanto muitas pessoas já morreram. Não quero ser o único curado”, disse ele, em entrevista à Folha na última quinta (11), um dia antes de palestrar em evento médico sobre o HIV na USP, em São Paulo.O desejo pode ter sido realizado. No mês passado, a revista Nature revelou o caso de um paciente de Londres que está livre do HIV há mais de um ano, após ter passado por transplante de medula. Os pesquisadores, porém, tratam o caso, por cautela, como “remissão a longo prazo”. “Até agora, essa era uma família [de curados do HIV] muito solitária, apenas eu. Estou muito feliz de ter novos irmãos”, afirma Brown, que visita o Brasil pela primeira vez. Mas esse caminho para a cura é considerado pouco realista pela ciência. Ambos os casos resultaram de transplantes de medula óssea em pacientes infectados, que foram destinados a tratar o câncer nos doentes, não o HIV. Hoje existem drogas muito eficazes para controlar a infecção, enquanto os transplantes são arriscados, com efeitos colaterais severos. 


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