Eleição teve maior nº de conteúdo falso já visto, diz MPF Eleitoral

  • 12 Mar 2019
  • 20:09h

Foto: Roney Domingos/ G1

O vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques de Medeiros, afirmou nesta terça-feira (12), durante o seminário "Beyond Fake News – Em Busca de Soluções", organizado pela BBC em São Paulo, que as as eleições do ano passado foram as que registraram a maior quantidade de informações falsas já vista. "Nunca tivemos uma eleição com tamanha desordem informativa, com tantas fontes diferentes, com tanto modo de circulação. Sem sombra de dúvidas, foram as eleições com a maior quantidade de fontes de informação e com a máxima velocidade e circulação de informações de todo tipo de natureza. O que antigamente era um folheto apócrifo, desta vez circulou pelo Whatsapp. O que antigamente era uma fofoca de ouvido, desta vez foi um filminho feito contra um candidato", disse. Segundo Humberto Jacques de Medeiros, "mudou a qualidade e a velocidade, mas não a essência do que a política de baixo nível tem nas disputas excessivamente apaixonadas". "E é isso que o eleitorado está refletindo e criticando e a gente imagina que, sim, sejam necessárias evoluções de regulamentação para que isso possa ser reduzido ou no mínimo minorado, para que não se desvie o foco das discussões efetivamente necessárias para as eleições", disse. "O eleitorado ficou gastando sua energia com iscas vãs e o que era efetivamente necessário não ocupou a pauta das decisões dos eleitores. Mas isso é típico da chamada pós-democracia. As pós-democracias são processos onde os contendores conseguem conduzir a contenda para certo ponto, envolver o eleitorado naquele ponto e impedir que discussão da sociedade alcance aqueles que eles não querem que sejam debatidos. É parte da democracia do século 21." Medeiros disse ainda que o Ministério Público Federal investiga o mecanismo por trás da disseminação de mensagens falsas nas últimas eleições. "Isso tudo não está concluído ainda, mas o foco principal da apuração não gira ao redor da intriga trocada em Whatsapp, mas em coisas mais sofisticadas como Cambridge Analytics, a projeção no Brasil de técnicas de targeting e manipulação de eleitorado." "Daria para vocês uma entrevista do 'The Guardian' em que um filósofo israelense que diz que um supercomputador com um algoritmo varrendo as suas redes pessoais e o seu e-mail consegue fazer você decidir algo achando que é sua livre escolha quando na verdade é pura manipulação que ele fez, porque, na verdade, ele sabe mais de você do que você mesmo sabe. Isso, sim, é algo perigoso e que coloca em risco a democracia." O procurador pregou durante o seminário que o Estado se abstenha de interferir no debate político. Ele disse considerar que o trecho da legislação que permite o cancelamento de eleições em caso de fraude tem inspiração autoritária, da época da ditadura militar. "O Código Eleitoral prevê uma possibilidade da anulação de uma eleição por uma absoluta manipulação que poderia haver do processe eleitoral, mas valeria a pena refletir quem escreveu esse artigo. Esse artigo da lei foi escrito pela ditadura. E a preocupação dela não era com fake news, ao contrário. 'Se eu não ganhar as eleições que eu promovo, é porque houve uma manipulação e eu as anularei'. A gênese desse artigo não é a mais feliz."


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