Menina com leucemia deixa carta para voluntária antes de morrer

  • 16 Jan 2019
  • 09:05h

Foto: Arquivo pessoal/Gabriella Pereira

A voluntária Gabriella Pereira, de 23 anos, passou os últimos dois anos visitando a menina Jullia, de oito, em um orfanato de São Paulo. Jullia lutava contra a leucemia, um tipo de câncer que começa na medula óssea, tecido responsável pela fabricação de todos os elementos do sangue. A doença se agravou no começo deste ano, e a menina deixou uma carta para Gabriella. "Obrigada por vir me ver"."Ela me ensinou a saber o que é ter um amor de mãe, sem ser mãe. Em não reclamar das coisas, eu nunca vi ela reclamando de nada", disse Gabriella ao G1.A carta chegou na última quarta-feira (9), mesmo dia que Jullia morreu. A carta foi escrita no dia 1º de janeiro em uma agenda da Branca de Neve. O texto começa no dia 27 de janeiro, não por acaso. "É o dia do meu aniversário. A Jullia queria me entregar nesse dia", lembra Gabriella. Mas a voluntária recebeu a carta no mesmo dia que Jullia foi morar 'com papai do céu', como escreveu. "Quero te pedir obrigado por me conhecer, por vir me ver", diz a carta escrita com a ajuda de uma assistente social. "Você é a minha melhor amiga e eu queria que você fosse a minha mãe, pedi para o papai do céu me fazer sarar, porque aí você ia arrumar os documentos e me adotar." "Tia Gabi, eu te amo, e estou pintando as bolinhas do calendário igual você disse e só faltam duas fileiras para o dia do seu aniversário, mas estou muito doente e com dor, por isso, se eu for morar com o papai do céu, não fica triste, porque eu te amo e só você é a minha melhor amiga", assinou Jullia no final da carta. Gabriella conta que até conhecer Jullia fazia trabalhos voluntários com moradores em situação de rua, visitava albergues e orfanatos. Entregava comida, cobertores e fraldas aos desamparados. "Quando conheci a Jullia parei com os projetos e só me dedicava a ela", afirmou. A jovem sempre que podia visitava a menina no orfanato. "Dia das Crianças, aniversário, Natal, entre outras datas, sempre tive comigo que precisava dar uma passadinha pra ver a magrelinha, porque as outras crianças tinham alguém que visitava e ela tinha apenas eu, sua irmã foi adotada quando tinha meses, mais a Júlia estava com 8 e tinha leucemia e lutava pela cura todos os dias", relatou Gabriella em um post que viralizou nas redes sociais. "Tenho comigo que fiz tudo que pude, todos os pedidos que fez em vida foram realizados e não me arrependo de nenhum deles." Ao G1, Gabriella revelou que pensou sim em adotar a menina, mas "Eu sempre tive vontade da adoção desde que conheci ela. Como sou nova é uma decisão muito difícil, não sou casada. Não tenho casa própria, é muito difícil. Não cheguei a dar entrada na papelada." Depois da morte de Jullia, Gabriella, moradora de Barueri, que trabalha no departamento jurídico de um banco em São Paulo, diz que vai parar com o voluntariado. "Nos próximos anos não vou mais trabalhar com isso. Não tenho mais estrutura. Vou seguir minha carreira."


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